24 março 2006

Sinta10...com o encanto de uma ilha

Não há cidadão neste planeta que não fica extasiado quando visita a ilha de Santo Antão. A diversidade da paisagem, dominada pelas montanhas abruptas são de cortar a respiração. Ilha espantosa em todas as suas vertentes (cultural, histórica, geografica, humana...), a ilha de Santo Antão encanta. Ilha de gente simpática, bonita, acolhedora; ilha de brandos costumes; ilha verde, doce, alegre... ilha diferente.
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Sabedor, simples, afável e bonita é a tua gente
Agradável clima, sempre fresquinha e temperada
Narcotiza qualquer visitante
Transporta a vida para o Éden
Opulento em belezas naturais

Alteroso em manifestações culturais
Nô bé colá Son Jôn, Son Jôn reveltiód
Terra de mil maravilhas, mil esperanças
Aventura-se pela ilha
Onde dirás - Ó que terra sabe nha gente
Djédjim Neves

23 março 2006

CABO VERDE ilha a ilha

Este é o espaço da caboverdianidade
Dez ilhas, dez realidades, varios costumes, uma cultura


Santo Antão - sempre primer (ma mi'n den culpa)
Etê gozói inda ê trediçon e el te incontród ne tud nhe dimenson. Se bo bem né mim nunca més bo te escsê: se bô bem c'fom bo te bé fórt; se bo bem triste bo te bé content.

São Vicente - Mim é vizin de sintanton ma nem por isso...
mut cosa no tem semelhante.
Li no tem Porto Grande e sê
baía espantosa, orgulho de tud nôs. Mindelo, cidad alegre, paraiso pa m
undano. E-m tem
festival de Baía, e-m tem mas alguns cosa...

Santa Luzia - mim em ca tem gent por isso em te falá nha criol ê um bocadin de cada ilha que quês pescodor de sintanton, sonpcent e sniclau insino-m. Ma cuitód de mim, es diab te bem dess ot ilha bem sujé-m nhes praia e panho-m nhas cagarra. Ma em te content que Palacio de Varzea porque ultimamente es tem pensód tcheu na mim. Inclusive tud ques ministro bem visita-m. Em fcá content. Ma ja-m dzês quê e-m crê gente tembem.

São Nicolau
Haahahaha, bi, jo-m bem fale tembem. Li e-m te dob atum, e-m te dob farinha de pau... e-m tem rotcha Scribida, e-m tem seminario, e-m tem Chiquinho, e-m tem Paulino Vieira. e-m tem tcheu intelectual ma infelizment mut dez sta patchi par loa.
Sal - ont mi era terra de gent queztigód, ohe mim e terra de gent be pentiód. Quem bem na mim ca ta largó-m. nha aeroport e sala de visita de Cabo Verde. Nhas praia e... (sem palavra). Praquê maz...

Boa Vista - mim tem Santa Monica, Chaves, Curralinho... Dunas, Praias, tâmara, agora ê aeroport internacional. Ó Deus Maior e Deus, Ó Deus Calamidade, Bubista já manchê..

Maio - a mim ê piquinoti ma nha curaçon ê grandi. Na mim bu t'incontra madjôr área florestada di Cabo Verdi. ma tambê mim tem sal, mim tem Praia, mim tem Betu

Santiago - Aaaavemaria! pakê pâpia di mim. mim ê mas grandi qui tudu alguem.Ê mim ki teni capital. Ê mim ki teni mas tcheu alguem. Mim ta recebi guentis de tudu cou. Di santanton ti Brava. Mim ta ra~pica funaná sem manha.

Fogo - Dixan fra di mim tooommbê. Aaali an tene tcheu qui frâ. Uva, vinho, cafe ê cu mim. Nha vulcon gó, ta po nhôs tuuudo cu meeedo di mim. Ma mim e fixe. Nha poovu ê dreetu. Du ta fervi qui nem vulcon. ma du ca ta ofendi cumpanheeeru. Sicrê a bo ê Djuzê, Bicenti, Anrique, Salumon, Manel, du ta da fixe.
Brava - mim sta chatiado por isso em ca crê fra tcheu. Nha Djenti ê dretu ma isolaadu. Nu ta crê ê teni transporti regular pa no podi fica mas contenti. Ê na mim qui nasce Eugenio Tavares, Morna... ê di mim qui djentis começa ta ambarca pá merca. Um flôr pa nhos tuudo.

22 março 2006

P'la objectiva

Olho Clínico

Numa rua do Palmarejo, duas vacas empenham-se no seu trabalho diário de saneamento da cidade. A julgar pela dedicação com que fazem seu trabalho o salário deve ser bem atractivo





Momentos

Quando o momento é aprazível, os gestos fluem-se naturalmente

Nós e a nossa Cultura II

A estátua de Cesária Évora

Há dias os cabo-verdianos tiveram a oportunidade de acompanhar na RCV uma longa conversa com a Cesária Évora (coisa rara neste país ouvir durante cerca de hora e meia a Diva a responder questões de um jornalista.) Nessa mesma semana se podia ler num dos nossos jornais duas páginas de entrevista com a mesma artista. A este respeito bem que Nha Balila poderia dizer “Cesária está na moda”. Mas atenção, se ela agora está na moda aqui em em Cabo Verde, na terra dos outros há muito que está.
A propósito lembro-me agora de uma conversa que tivemos há bem pouco tempo na sala de aula (aquelas conversas que são para relaxar no meio das aulas cheias de teorias e tal). Estávamos a falar de Cesária Évora e alguém disse: - “Eu nunca vi a cesária a actuar ao vivo nesta cidade, é incrível”
Aos 64 anos Cize diz que, enquanto tiver forças, vai levar a nossa música para onde quiserem ouvi-la. Em resposta à pergunta “Para quando uma toureé pelas nossas ilhas?” Cize hesita e responde mais ou menos isso: “Djô já falá-m nisso. Ja’m dzê-l que nô te espiá. Ma quónd e-m te bem pe Cabo Verde ja-m te estód mut cansód de tónt actuação... por isso e-m te querê descansá. Ma ê um cosa pe pensá”.
Analisando bem, se a Diva está disposta a levar a nossa música para onde quiserem ouvi-la; e se responde hesitada à possibilidade de uma tourneé pelas ilhas... faz-me pensar: “Então, será que Cize pensa que queremos ouvi-la? Ao longo da entrevista Cize afirmou que “sónt de casa ca ta fazê milagre”. Cize disse também “mim ca tem brincadera q’nha França, ê de lá qu’em te sei pa espectáculos, ê pralá qu’em te voltá de espectáculos”
Cesária Évora faz questão de mostrar a sua gratidão para com a França. Também o caso não é para menos. Foi preciso eles (os franceses) dizerem que ela tem qualidade; foi preciso colocarem-na num pedestral para que nós, os santos da casa, pudéssemos reconhecê-la como tal.
Já agora, para quando uma estátua da Diva dos Pés Descalços nestas nossas cidades? Como diz o Pofessor Victor Da Rosa*, vindo lá do Canadá – “
Voçês devem muito à Cesária Évora. Se este país é tão conhecido não é por causa dos vossos políticos nem outros, mas sim por causa dela. Eu se fosse os vossos governanates arrancava aquele Diogo Gomes lá do alto do Plateau e em seu lugar colocava um monumento à Cesária Évora”
É verdade, uma estátua da Cize não custaria, certamente, muito aos nossos cofres. Pelo menos, não seria preciso muni-la de sapatos. Vamos aproveitar este "Rogamar" - mais uma obra prima da Cize - e rogar aos deuses dirigentes deste país que a brindem com um monumeto. Estátua já!

*Professor da Universidade de Ottawa, Canadá. Está em Cabo Verde para efectuar um estudo sobre o regresso dos emigrantes de Portugal e EUA.

09 março 2006

Oi GRILID

Exemplo animal
Passando pela Avenida dos Combatentes da Liberdade da Pátria, mesmo em frente ao Arquivo Histórico, fico admirado com o comportamento de um cão qualquer (merecerá este nome?)
O bicho vinha da Gambôa e queria transpor o alcatrão e alcançar o outro lado da avenida. Parou, olhou para ambos os lados mas pareceu ficar assustado ante o trânsito que fluía nessa via. De repente avança um pouco mais para cima e atravessa a estrada exactamente onde está uma passadeira, enquanto dois autombilistas páram-se impávidos a olharem para o transuente que atravessa a estrada pachorrento.
Quantos animais racionais andam por aí a precisar de um exemplo destes, hein!!??
ZOO
Ninguém já se escandaliza com as vacas urbanas no Palmarejo da amada Cidade da Praia, Menina do mar, Paixão Atlântica. Não, já ninguém fica incomodado, até porque essas criaturas dão bom jeito à Câmara Municipal por contribuirem activamente no saneamento do bairro (limpam todos os dias os contentores)
Mas se com as vacas já não há problemas, não sei se o mesmo se poderá dizer com outras criaturas. É que hoje, logo de manhã quando saía de casa, dou com duas mulas na esquina que dá para a minha casa. O palmarejo está a despertar o interesse dos animais de grande porte. Se o seu poder for igual à sua compleição física, então os moradores que se cuidem. ainda por cima com a polémica despoletada há tempos sobre a questão de se saber de quem é o Palmarejo...

Fraternidade

Meu irmão,
meu amigo
meu camarada
bo bem nha trás
ma bo ca ta fca pa trás
por mas que'em chetiób
por mais que no zangá
sempre no ta dá quel monzada
bo ê bom companher, um conselher... um gaiato
estaremos sempre j u n t o s

06 março 2006

ESS QUÊ NHA TERRA

Os ponteiros do meu relógio já haviam transposto o ponto que marca as doze badaladas. Desço de uma viatura Hiace e o ar que envolve meu rosto denuncia um ambiente diferente. Estou em Pedra Badejo, interior de Santiago, e vou ao encontro de um amigo que conheci há quase quatro anos, quando cheguei na cidade da Praia. O Objectivo é passar um dia agradável, não fosse uma quarta-feira de cinzas, ocasião para muita festa e fartura em Santiago, sobretudo no interior. A acompanhar-me, o meu irmão Jair mais um colega das lides académicas na Jean Piaget.
Antes de dobrar a esquina que dá para a casa do amigo, eis que deparo com ele na soleira de uma casa a jogar oro com um ancião. Hum, há quanto tempo não vejo esta imagem! Por instantes dou algumas voltas à cachola e recordo a minha infancia lá na pacata Ribeirinha de Jorge, zona do espantoso vale da Ribeira da Torre, Santo Antão. E lembro-me das joguinhas de uril (assim dizemos lá na ilha) que, de forma apaixonante fazíamos eu, meu irmão Jair e o Dêc, este último um craque que hoje se encontra lá nos States. Os nossos tabuleiros, imagine, eram doze buracos perfurados no chão. Escolhíamos um lugar onde a terra era dura e nivelada e então desenhávamos geometricamente os buracos, seis de cada lado. Como bolas de uril usávamos semestes de algumas árvores, mas também pedrinhas redondas e até bnic de cabra.
Ponho um stop na minha divagação e “desço” para a realidade que me circunda. Após fecharem uma ronda o meu amigo levanta-se e dirigimos à casa dele. À nossa espera uma mesa recheada, onde não poderia faltar o famoso cuscus com mel. Momentos depois o estômago de cada um de nós estava bem regalado e saímos em passeio pelos arredores da vila.
Cerca de uma hora depois regressámos à casa do anfitrião. A mesa está novamente reposta. Agora é almoço. Huf, quanta comida: couve, mandioca, peixe seco, arroz, xerem, enfim comida da ocasião. Volto para os meus botões e exclamo: - esta que é tradiçon di terra. E digo aos meus confrades que me acompanhavam: "Rapazes, não enchem o saco todo, porque vamos ter que visitar mais três ou quatro amigos. E olhem que eles não nos perdoarão se recusarmos as suas cozinhadas de cinza." Ê tradiçon di nha país.

CRIOL Ê BUSÓD

Cabo-verdiano ê um povo nimód. Smém pobre ma ligria en de felté'l. Tud hora el te sei que cada pirraça...
Enton, pa oiá quê realmente criol ê busód (xuxanti) te fcá registód alguns pirraça que te cuntcê quel ne dia-a-dia:

Es te contá que lá na ilha es prometê um senhor bon dnher se el pudesse dzê em 3 segund 3 palavra que te começá pe letra A. Enton el raciociná cum pressa el dzê: oçucra, orroz, orrlos...cuitód, fca sim dnher!
Algo parecid cuntcê que nhô filipe, omi lá de Djar Fogo. El incontrá ma um compatriota ne Sucupira, es po te falá de ses vida. Nhô Filipe voltá pa se interlocutor el dzêl: "a mim em teni Quato fiiidjo: - A, B, C e D. A di Anriqui, B di Bicenti, C di C(S)alomon e D di Djusê.
E esta eh...?

Conversa de namorados e ... tempos (verbais)
quem contá tava te passá ne sê caminho sosegód.. El uvi... ma pront, el ca tem culpa
Namorado: lembra ma bu ta flaba sempri ma bu ta amam
Namorada: A bo dja'n ca crebu mas
Namorado: poxa , ê ca bo qui ta flaba sempri ma mi era tudo pa bo?
Namorada: ah, si bem qui bu fla dretu: era, futuro, ja passou....

CARA DE PAU
Alguem cunquí na porta de Nha Joana. Nha Joana bé abri porta te corrê porque ês tinha cunquid tão fort...
Quónd el ébri porta el depará c'um Dona gorda e que presentá com cara mau: "e-m bem dzê bocê que quel catchôrr de bocê comem dois galinha
Nha Joana voltá ne descontra: "oh, muito obrigada pa ess aviso que bocê teve consideração de bem da-m. Assim hoje já-m ca ta precisá de preocupá em ranjá jantar pa nhe catchurrim

Ess foi ne soncent
Um gajo tava que falta d'uns trukin e el en sebia cmenê quel tava rengél. De repente el lembrá quel tava cum ocs (luneta) no bolso. Ma na verdade era apenas um ar, l'en dinha vidro. Enton el passá num broda que tava te bem nas calmas e el pedil pe comprél quel ocs. Ma como broda era espert el pdi pa oiá ocs e logo el oiá que era so ar. El mandá vendedor bé tocá lata.
Bem ot broda cum jet basofon, te espringá e tud. "broda compram ess ocs" - Dze vendedor. E broda respondê: "a mim em bem di Praia onti, em sta sabi na suncenti, ma li em ca ta cumpra cusa". Ma vendedor insisti: - "Exprimentá, depos bo te dcidi"
Enton broda tmá ocs el po no oi ma l'en dá conta se era so ar. El fcá content el dzê: "poxa es óculus ta fican claro. Nunca própi um odjaba oculus sima quel li. Em ta comprou el já.



Ot pirraça
Ne Soncent um pedrer foi tchmód pe costruí um ténk ne terraço dum casa. El Bé com tud sê conheciment el terminél ne cinc dia. Ma uquiê que cuntcê? Cónd el terminá de rebocá quel ténk el sei content te gavá de eficácia de se tróboi. Ma log el lembrá que quel tambor que servil de andaime tinha fcód la dent. Manera agora que el te trál dalá se ténk já te btód placa?

05 março 2006

RACISMO - será o cabo-verdiano um povo racista?

Se perguntarmos a qualquer cabo-verdiano se existe racismo neste país ele parece não hesitar na resposta: “Não, não há racismo em Cabo Verde” – retorque com uma vaidade contígua a um sorriso que se estende até a comissura dos lábios. Os folhetos turísticos referentes à Cabo Verde exaltam a Morabeza crioula, gabando-se da nossa fama de povo acolhedor. Que isso seja verdade parece ser pacífico. Mas então pergunto: somos realmente acolhedores quando se trata dos nossos estimados vindos do interior da nossa África? Aí a coisa muda de figura. Pode-se então considerar que esses folhetos estejam a dizer a verdade? Claro que, se excluindo os (outros) africanos, estarão a ser realistas. É que, quando pensamos em turistas, em estrangeiros que vêm à nossa terra, quem nos vem à cabeça são os brancos (europeus especialmente)
Há alguns anos, quando estudava o 12º ano, por ocasião da celebração do Dia Mundial da Luta contra a Descriminação Racial, que se celebra a 21 de Março, estivemos a fazer um trabalho sobre o racismo em Cabo Verde na disciplina de Cultura Cabo-verdiana. Por orientação do nosso professor, elaborámos um questionário dirigido aos alunos e professores (sobretudo estrangeiros) do Liceu Suzete Delgado. Mas o questionário estendia-se ao público em geral. Dentre outras questões pertinentes, perguntávamos se se considerava existir racismo em Cabo Verde. As opiniões divergiam-se, mas o que mais surpreendia (?) é que quase todos os estrangeiros inquiridos, ao contrário dos nativos, achavam que somos muito racistas. “Sendo vocês africanos, fiquei muito surpreendida quando cheguei cá, ao ver a forma como tratam os outros africanos que estão neste país!” – respondeu um dos nossos entrevistados, uma portuguesa a leccionar no referido liceu. Esta opinião/facto é elucidativo, e serviria como mote para se despoletar um debate em torno da existência em Cabo Verde de uma xenofobia e uma xenofilia. A primeira em relação aos outros africanos (os continentais) e a segunda em relação aos brancos, principalmente europeus. É só ver como são tratados os chamados “mandjacos”. (Há que defende que só o termo mostra essa descriminação). Basta comparar a nossa atitude face aos “mandjacos” com aquela face aos brancos. Totalmente diferente! E não vemos (não queremos admitir) que somos africanos! Também não deixa de ser irónico o facto de tratarmos de forma menos adequada os africanos continentais que aportam nestas ilhas: É que somos um povo de emigração e todos nós sabemos que também sofremos racismo lá pelo “velho continente”.
BCN