À medida que ia ganhando um pouco de juízo o cenário cor de rosa típico das criações fantásticas da infância dava lugar à uma "frustração" provocada pela realidade nua e crua (afinal Tarrafal de Monte Trigo não tem aquela paisagem bucólica que via nos meus sonhos acordados; e Topo de Corôa não parece com um rei" - eram frases como estas que expressavam a minha desilusão) Não é que esses e outros tantos locais não sejam paradisíacos, o menino sonhador é que elevava a fasquia das suas imaginações, criando cenários só possíveis em sonhos (agora tenho outros olhos)
E são estes (outros) olhos que agora me fazem delirar com um Tarrafal de Monte Trigo, um Topo de Coroa, um Vale do Paúl ou, claro, uma Ribeira da Torre.
Voltando à minha estrada Porto Novo-Janela: Um dia, já com mais juízo, dei conta de que as criações do meu imaginário baseavam-se, afinal, em projectos, em miragens. E foi assim durante muito tempo. Mas a esperança, que é sempre a última a morrer, veio dizer que não chegou a sucumbir-se. E lá vai a estrada, sobre rodas, desbravando montanhas, encostas e falésias. Ahh, passando até por túneis!

Queria agora ser menino para saber que fantasias iria nascer na minha cabecinha ao ouvir falar nos túneis da estrada Porto Novo-Janela
fotos: Helder Medina