03 dezembro 2005

POESIA

Poetando patéticos
versos

com Jair (Djédjim) Neves

O valor incomensurável da mãe
Mãe, palavra pequena mas de enorme valor!
Três letras apenas, mas mágicas e doiradas!
Enormíssima, mãe, é o teu valor
Incalculável, mãe, é o teu amor
Mãe anjo-da-guarda
Que nos afaga e nos mimoseia
Sem (ti) mãe, a vida é maliciosa:
Vejo no mundo coisas extraordinárias
O sol que desponta os seus raios
Fascinantes!
Uma flor que desabrocha
No nascer de um belo dia!
Mas mãe, és incomparável
De todas as maravilhas da Mãe Natura,
És a mais portentosa e querida
Não foi sem razão que
O Pai Criador depositou em ti
O seu mais miraculoso trabalho:
A missão de dar a vida
E formar homens
DN 23/03/06

Amor louco
Apaixonei não sei de que forma
Amo-te não sei de que jeito
Vejo-te não sei com que olhos
Afinal, que amor é este ?
É um impulso frenético
e ferveroso que vem do coração?
Não! Não sei que mal é este
Conseguir descrever este louco amor
é impossível! Porquê? São tantos os sentimentos!
São tantas as inquietações!
São tantos os sonhos acordados...
Enfim, é um amor de mil sentimentos
Que nasceu não sei como
Que me endoidece não sei porquê
Só sei que te amo
DN 01/03/06

Vida sem amor
Só eu sei quão dura é estar sem ti, amor!
Quão custoso é
não estar ao teu lado.
Quão solitário sinto...estou abalado!
Não vejo

a hora de te agarrar e calar a minha dor

Vida dura e custosa vivo, não
sinto o teu calor
Viver assim, solitário e atormentado,
só porque estou
apaixonado?
Pobre coração, hás-de sentir melhor

Quando o amor for
vivido
serei, quiçá, o mais feliz na vida
e viverei no jardin mais puro

no jardin mais florido
e navida a felicidade mais conseguida
a descoberta do melhor tesouro
Djédjim Neves
(DN)

Dor de amor
Que coração é este,
que tanto
bate?
É um coração
cheio de amor e afeição!

Que donzela é esta
que tanto me faz sonhar?
É ela uma donzela de encantar
de
maravilhar, ao ponto de tornar-me besta

Dá-me, ó musa, o teu amor
Deixa-me dar-te o meu coração
aonde vai encravado uma flôr

Amo-te perdidamente
Amo-te loucamente
Receba o meu coração
DN

Deambulação
afortunada
Numa manhã primaveril
estava eu deambulando
campos fora
para
aliviar uma dor jamais sentida
pela
ausência de uma amor.
Andei, andei,
alegrando com o emanar da frescura
que vinha de um bosque.
Pasmado com aquele encanto raro
foi momento que uma ninfa
me surpreendeu com um ósculo repentino,
deixando-me boquiaberto.
Logo, me
acompanhou no meu caminhar
fomos andando,
conversando aprazivelmente
Depois
sugeriu-me acompanha-la
a um jardim que
dizia ser mais belo
de todos do
mundo
Ah, porque havia eu de
rejeitar
tão aprazível convite,
se a sua presença me deleitava?
Fomos de mãos dadas e,
num ápice lá estávamos.
Oh! Que
jardim mais belo!
Que paraíso
escondido!
Que maravilha essas flores
multicolores!?
Minha ninfa sois
bela,
como essas bonitas rosas!
Neste encantamento,
tudo eu via cor-de-rosa.
Apaixonei por uma rubra flôr
que
ninguém mais vira igual...
porque é a
única e
plantei-a no fundo do m,eu
coração,
encravado para toda
a vida.
DN

Outros patéticos versos (Agora Com BCN)

Acidente de percurso

Mandei um passarinho
Levar-te um beijo meu
Que saudades tuas
Tinha eu

Sentei, aguardei o teu na volta
Regressou o passarinho num piscar de olhos
Radiante, pensei comigo:
-"Lá vem o meu"

À chegada olhou-me de soslaio
Cheio d’ansiedade quase desmaio
Rompendo o silêncio, o bichinho lá desembucha

Logo, enorme foi o meu espanto
Maior ainda o meu desencanto
É que na volta, deixou o bichinho cair o beijinho
BCN Jan 2003

Teu olhar

Naquela noite serena e pura
Queria sentir o calor ardente
Dos teus lábios, do teu corpo
Envolver numa magica doçura

Naquela noite serena e pura
Pedi à lua que ficasse cheia
Ao luar que nos inundasse
Com a magia do seu brilho

Ah… ficou indiferente
Nada me disse
Mas… já não pensei nisso
E logo lembrei:

- Nesta noite serena e pura
Qu’importa lá o luar!?
Já não basta o brilho do teu olhar?
Não estaria eu a pedir demais?
Talvez não – queria apenas unir o útil ao agradável

Desafiando Mãe Natureza

Pensando em ti, rara beleza
Pintei uma flor!
Muito simples (com certeza)
Mas com muito amor

Quis mais longe ir
Tentando vida lhe dar!
Tentei, insisti, impossível foi conseguir
Inconformado, pensei com ela acabar

Veio a chuva, brilhou o sol,
Infinitas flores por todo lado vi crescer
Maravilhosas, perfumadas, envergonharam a minha

Desiludido fiquei, sem sentido a achei
Mas…pensei: - quem a fez nascer
Mãe Natureza não podia ser
BCN Dez 2002



02 dezembro 2005

Nós e a nossa cultura I

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A fábrica dos nossos talentos

"A maior riqueza de Cabo Verde é a sua cultura!" -
Bem, creio não ter dito qualquer novidade visto que, cá entre nós, esta afirmação já se tornou uma frase feita. Se em outros domínios estes dez grãozinhos di terrra qui Deus espalhá na mei di mar são completamente despidos, no que tange à cultura estamos bem vestidos, ostentando mesmo basofaria. Com os olhos grilidos e cheios de orgulho falámos à um forasteiro de Cesaria Évora; de Germano Almeida; de Lura, de Tcheka, Raís di polon, Ferro Gaita, Juventude em Marcha, Mayra Andrade, Ildo Lobo, Bau, enfim, se for nomear cada um não haverá espaço que chegue.
Parando alguns instantes para reflectir acerca de tanto talento brotado nestes tais dez grãos exclamo: - aonde consegimos ir buscar tanta qualidade? Nos bares da esquina do bairro; sob a sombra de uma árvore (quando a sua copa dá para gerar alguma sombra) ; nas xintadas de amigos ....enfim, sob os rumores das coisas simples da minha terra, de que fala o grande Jorge Barbosa.
Parando para breves momentos de cogitação vem-me à cabeeça kora awards, jogos da francofonia, premios RF1, Zennit, enfim...
Estes eventos e locais já são bem familiares para os nossos artistas de áreas diversas. É de se orgulhar. Só que, para nosso desalento, muitos desses verdadeiros embaixadores do nosso Cabo Verde lá fora não usufruem do merecido apoio das autoridades desta nossa terrinha de morabeza. Como se explica, por exemplo, que um Raiz di Polon ou um Juventude em Marcha não dispoem de um espaço decente e próprio para os seus trabalhos de ensaios e actividades afins? Será sina de criol?
Basta uns instantes de reflexão sobre isso para entender uma certa contundência de um Tito Paris ou de um Ramiro Mendes quando instados pela comunicação social a pronunciarem sobre a cultura cabo-verdiana.
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29 novembro 2005

REFLEXÕES

Paradoxos desta vida
As vezes, nos raros momentos de silêncio que hoje em dia esta vida nos põe à disposição, fico a imaginar, a divagar num itinerário labiríntico sobre aspectos que inquietam meu coração.
Um dos aspectos sobre o qual me indago é o lado paradoxal desta vida. Não se trata do tipo de paradoxo cantado por alguém e que diz: si hoje bô nascê, um dia bô tá morrê/bô ta corrê d’pôs bô tá pará. Não se trata disso. São sim, aspectos que o próprio Homem cria e comanda sob a sua reputação de único ser racional.
Nascemos, crescemos e nesse processo de crescimento, onde estamos submetidos a um aprendizado constante, ouvimos e retemos ensinamentos vários, muitas vezes teorias do senso comum que, com o amadurecer das consciências, vamos anuindo ou refutando.
Assim ouvia, e oiço, dizer que cada um conforme trabalha assim recolhe. Será isto verdade? Não sei, mas vejamos os casos de dois homens, ambos com o mesmo nome – João.
O primeiro madruga as cinco horas, abaixo de dificuldades ferve um gole de café e vai labutar debaixo de um sol ardente, com enxada, pá, picareta…Sob esse eterno sacrifício constrói estradas, levanta diques, varre as ruas, esvazia os contentores nauseabundos, enfim…
O segundo levanta muito mais tarde, veste-se a rigor, com roupa lavada e passada por uma empregada doméstica. Tira da garagem um luxuoso automóvel e caminha em direcção ao serviço. No escritório tem uma multi-media de onde consegue chegar aos quatro cantos do mundo. A mensalidade deste João não atrasa um dia sequer e é desafogada. Já a mensalidade (se assim se pode chama-la) do primeiro João demora meio ano a chegar e só dá para liquidar dívidas contraídas na compra de alguns produtos de primeiríssima necessidade.
A vida destas duas criaturas desenrola em dois patamares completamente diferentes. Só há de comum entre eles o facto de ambos terem o mesmo nome, embora o do segundo seja precedido de um sonorizado Sr.! Desta forma a vida desses dois homens foi-se prolongando cheia de diferenças até que chegou a morte. E será que isso lhes colocou no mesmo nível, algo que não pôde acontecer ao longo da sua existência na Terra? Meu Deus, nem a sepultura lhes aproximou. É certo que ambos foram metidos numa cova de sete palmos e cobertos de terra, mas de comum apenas isso. Quando o segundo morreu mobilizou uma multidão que veio de lenços ao punho. As pessoas trouxeram ramalhetes de flores de todos os feitios; o jazigo foi enfeitado com lindas coroas. O outro João, o primeiro, morreu e lá se foi a enterrar. Quatro pessoas assegurando o caixão, comprado com dinheiro que o finado tinha religiosamente guardado para quando chegasse esse dia. O cortejo traz pouco mais de duas dezenas de pessoas, incluindo familiares, dentre os quais 10 filhos, e alguns vizinhos. A cova, situada há alguns metros do mausoléu do outro João (o com Sr.), ficou despida de flores e nem uma cruz decente conseguiu. E esteja ciente, mendigo, porque mais alguns anos vais ter que dar lugar a outro João como tu, enquanto teu, agora vizinho, também João (mas com Sr.), com o sepulcro comprado e feito de betão, jaze livre de perturbações.

Quando paro e penso na história destes dois Joãos recordo aquele aforismo que muitas vezes oiço da minha avó: “Cada um conforme trabalha, assim recolhe!” Hum, sem querer estar a pôr em causa a tua sabedoria nonagenária, te pergunto avó: porque será que os Joãos sem Sr. trabalham, trabalham, sem fins-de-semana nem ferias, suportando o sol ardente e, afinal, não têm um abrigo decente, comem mal, são os menos respeitados (desprezados mesmo) e o que recolhem no final do mês nem dá para um jantar fora dos Joãos com Sr. !!? E já reparaste, avó, que os Joãos mais respeitados (os com Sr.) nem sempre são os mais respeitáveis, enquanto que os outros (os sem Sr.) geralmente são honestos e humildes? Isto chama-se paradoxo, minha avó.
BN