09 dezembro 2006

Coragem na Vertigem

A que realidade esta foto se refere? Quem se atreve a avançar com uma hipótese? Está sendo difícil? Uma dica: é no nosso país, é na ilha de Santiago, é no concelho da Praia, aliás é na "barba-cara" da Cidade da Praia. Bem, é no Monte Vermelho!
Retrato do dia-a-dia de muitos imigrantes africanos a extrairem jorra no Monte Vermelho. "Quando o sacrifício sobe... (alguém para completar a frase?)
(foto BCN)

04 dezembro 2006

Socorro!


Este é o farol Fontes Pereira de Mello, ou popularmente Farol de Boi. Esta magestosa obra foi edificada no sec. XIX. Está lá (ainda), ali na Pontinha de Janela, suplicando aos deuses que lhe estendem uma mãozinha, que cuidem dele porque nos homens já não acredita. Está lá, perscrutando o Atlântico, esse oceano que tanto iluminou para que os navios não conhecessem contratempos enquanto sulcavam os mares rumo às sete partidas. Está lá, degradado, a cair de podre, porque... já passou a história.

(foto BCN - feito em 2002, por isso já lá vão mais 4 anos de degradação) _______________________________________

_______________________________________

Ilhéu dos Bois

Mesmo abaixo do Farol de Boi está este pequeno ilhéu, que também é de Boi. São dois símbolos da ilha que, bem pertinho um do outro, partilham de tudo: testemunham histórias de uma comunidade sofrida (Janela), as lendas, a maresia, enfim partilham até o Boi que lhes serve de alcunha. Companheiro inseparável do farol, o Ilhéu dos Bois confere outra beleza à vista que, à partir do farol, se tem da costa norte da ilha.

19 novembro 2006

Pegá-saia

Quando nas ilhas ainda não havia as lojas chinesas, televisores, Internet, Play-stations, Tarzans e Floribelas a audácia e a criatividade enganavam a necessidade. E fazia-se quase tudo com quase nada, até cestos de Pega-saia (quando viesse a chuva, claro)
(foto BCN)

Tradição e modernidade

Acontece, como é o caso, no espaço rural, pois caso esta foto fosse o retracto de uma situação no meio citadino seria um oasis "urbano". Cá está a prova de que o rudimentar e o moderno se pode conviver, numa concorrência leal. Por mais tecnologia que o carro dispõe, não pode neste caso concreto superar a competência do animal que, ainda, vai lá onde as rodas e os cartões de crédito não chegam.

Foto: BCN

03 novembro 2006

Fruta-pão


Este é um dos produtos que a ilha exibe toda vaidosa. Trata-se da Fruta-pão e, ao que parece, em Cabo Verde a árvore que a produz só existe em Santo Antão. Nesta ilha a árvore abunda e só no vale da Ribeira da Torre deve haver milhares.
A fruta-pão desempenha um papel importantíssimo na dieta do homem da ilha (e não só). Assada, frita ou cozida, ela é ingrediente indispensável para um guisado ou caldo de peixe, pratos típicos da ilha.
Mas como se explica que esta árvore tão vulgar em Santo Antão, não exista nas demais ilhas. Segundo relatos dos
mais velhos, a árvore foi trazida de Las Palmas por um proprietário da ilha que passara por aquelas paragens. Começou-se a plantá-la primeiramente em Ribeira da Torre e depois foi-se espalhando um pouco por toda a ilha. Mas também há quem defenda que foi trazida de São Tomé, país onde abunda a fruta-pão

16 outubro 2006

Santo Antão de outrora

As ribeiras e o camarão

Aqueles que, como eu, nasceram gósterdia, não conhecem o camarão "d'terra". Mas oiço frequentemente os mais velhos, inclusive meu pai, falar deste crustáceo aquático, muito apetecido em todo o mundo. Não que o meu pai e outros habitantes da ilha de Santo Antão estejam a falar de pratos caríssimos em restaurantes ou coisa parecida. Não, ao falarem de camarão referem-se, melancólicos, aos áureos tempos em que nas ribeiras da ilha se apanhava este bichinho aos montes. Os abundantes e permanentes caudais de água doce que outrora corriam por toda a ilha constituíam paraísos para os camarões que se reproduziam à-vontade. Então, a sua presença na ementa do santantonese era constante. Para os apanhar, de entre outras técnicas, colocava-se à tardinha balaios nas pequenas quedas de água para, no dia seguinte, recolherem-nos cheios de camarão, que vinham ao sabor das correntes.
Esta apanha desenfreada fez extinguir da nossa realidade este crutáceo de água doce e salgada, tão caro quanto apetecido. Assim, aqueles que nasceram a partir dos finais da década de 70/inícios de 80 para cá, de camarão conhecem só estórias (como eu).
Se as autoridades tivessem despertado mais cedo para a necessidade de conservação de espécies em vias de extinção...
Na minha recente passagem pela ilha ouvi dizer que foram encontrados alguns camarões algures na Ribeira de Janela. Houve quem dissesse inclusive que chegavam aos 15 centímetros. Não pude confirmar a veracidade destas notícias. E se for verdade, que fazer com tais criaturas!!!!??? (se é que ficaram vivos)

03 outubro 2006

Dragoeiro santantonense

A ilha que é das montanhas também é do dragoeiro!
Quando se olha para uma revista nacional ou então um folheto turístico e se dá de caras com esta árvore, normalmente não se hesita em dizer " é Sao Nicolau"! Pois bem, a ilha de Chiquinho é que tem dragoeiro (pelo menos julga-se que é a única em Cabo Verde). Mas não, na ilha de Santo Antão há dezenas desta árvore endémica. Podem ser encontradas sobretudo nos vales subjacentes ao Planalto Leste e no concelho do Paúl.
Um dos recantos da ilha que mais esconde esta árvore histórica é Ribeirão Grande (foto). Pese embora o nome, este sítio é um pequenino vale muito escondido, situado no Planalto Leste, entre Pinhão e Monte Joana (concelho da Ribeira Grande). Para se chegar ali é preciso desvendar alguns montes por entre caminhos vicinais e atingir uma altitude de quase mil metros.
Uma sugestão para melhor conhecer as belezas escondidas deste país.

17 setembro 2006

Maria de Barros em Santo Antão

Chama-se Maria Conceição Fontes da Graça de Barros. Filha de pais descendentes da ilha Brava, esta crioula nasceu no Senegal, cresceu na Mauritânia e vive actualmente nos EUA - mim nascê na bo berço ó Senegal, um brincá na bos areia ó Mauritânia, ma nha coraçon ta na bo ó Cabo Verde - revela a cantora numa das faixas do seu primeiro álbum "Nha Mundo".
Maria de Barros "é mais um caso de filhos de imigrantes cabo-verdianos nascidos no estrangeiro mas que, contagiados pela música, tornam ferverosos militantes da cultura cabo-verdiana" - escreveu um dia o jornalista Santos Spencer.
Já com dois álbuns editados, a cantora está agora em Cabo Verde em contacto directo com as suas raizes. Começou por actuar no festival da Baía das Gatas, depois subiu aos palcos da Praia de Cruz na Boa Vista, passou por Santiago, Fogo, Brava e agora parte à descoberta de Santo Antão.
Os santantonenses podem agora desfrutar das melodias desta alma crioula, que também canta no dialecto da ilha (quem nunca ouviu o tema "riberonzinha" ou mesmo "ó ménel"?)

28 julho 2006

Quando a falta de uma letra faz toda a diferença...

Atenção: e-mail pode matar
Decidi ligar a rádio. Já passava das 8h da manhã e sintonizei a RDP- África. Como de costume lá estava o jornalista David Borges com as suas crónicas e demais novidades, de resto sempre interessantes. Nesse dia, após a habitual crónica diária, contou esta:
"Atenção, e-mail pode matar! Um casal algures nos Estados Unidos planeava umas merecidas férias num lugar bem afastado da sua residência. O marido, um banqueiro de meia idade, havia entrado de férias com uns dias de antecedência em relação à esposa, esta uma professora universitária. Então decidiu que seria melhor ir desde logo até ao local para assim providênciar um canto bem aconchegante para os dois se relaxarem. Chegou num hotel, gostou das ofertas e decidiu comunicar à esposa. Mas apercebeu-se de que não tinha registado o endereço electrónico dela. Porém, desconfiava que o sabia de coro e tentou. Por azar enganou-se numa letra e a mensagem foi parar à caixa de entrada de uma mulher cujo marido tinha morrido no dia anterior. A mulher, ao abrir a sua caixa soltou um grito ensurdecedor que os vizinhos acharam estranho e foram acudí-la. Ao chegarem encontraram-na estatelada no chão, já sem vida. Um dos vizinhos vê para o ecrã do computador que estava mesmo junto da senhora e depara com a seguinte mensagem na sua caixa de entrada:
Querida esposa, acabei de chegar agora mesmo. A viagem foi boa e as pessoas são maravilhosas. Já que estou a gostar mandei o pessoal preparar tudo para a tua vinda amanhã. Estou ansioso pela tua chegada.

Obs: a temperatura é insuportável

Um beijo do teu amor

Então já sabe, tenha cuidado com os e-mails que escreve. Como disse o David Borges, se esta história não for verdadeira é, pelo menos, bem inventada

Momentos

Há momentos inesquecíveis e certamente que este burrinho, natural e residente no Berço da cabo-verdianidade (cancarã da cabo-verdianidade como diria Nedil Rosa) jamais esquecerá este instante da sua vida. Estava-se numa manhã do mês de Abril quando este famoso jumento teve o privilegio de levar um beijinho da Sua Magestade rainha Sofia de Espanha. Este ilustre filho da novel Cidade de Santiago de Cabo Verde bem se pode gabar de ter conseguido algo que muitos por este mundo sonham um dia conseguir.

18 julho 2006

RIBEIRA DA TORRE - o vale, o verde e a (falta de) estrada

Quem chega à Santo Antão e precisa viajar até ao norte da ilha não deixará certamente de contemplar uma das paisagens mais belas de Cabo Verde. Sai do Porto Novo e ao chegar ao cume da montanha, na localidade de Água da Caldeiras, a paisagem fa-lo-á interrogar se se está realmente em Cabo Verde. É que o verde dos pinheiros e cedros, juntamente com a neblina e consequente clima frio, fazem-no acreditar na justeza do nome deste país.
Passados breves minutos, e ainda sem concluir o seu primeiro momento de espanto, o visitante é obrigado a confrontar-se com nova maravilha: dois vales profundos lhe circundam a estrada. À sua esquerda o vale da Ribeira Grande e do lado direito o da Ribeira da Torre. É deste que vou falar agora.
Estando à muitos metros de altitude, o visitante penetra o olhar nas entranhas do vale e já não quer desviar esse olhar. O alcance da vista é impressionte. Quintais de bananeiras, canas de açucar (donde sai boa parte do grogue produzido na ilha), árvores diversas, sobressaindo as famosas árvores de fruta-pão raras em Cabo Verde mas abundantes no vale, são algumas das atracções que o nosso visitante vê e que lhe desperta a vontade de meter-se vale adentro. Mas não se pode falar da Ribeira da Torre sem se aludir ao magestoso Topo de Miranda, um monte que se ergue mesmo no meio do vale e que dá nome à ribeira (foto). Este acaba por consolidar a vontade do visitante que fica ansioso por aventura-se pelas entranhas do vale.
A sua beleza foi contemplada de longe, do alto da estrada. Ao chegar à vila da Ribeira Grande, o viajante vai querer conhecer agora de perto aquele vale que tantas sensações lhe causara ao transpor a estrada Porto Novo- Ribeira Grande.
Já in loco as descobertas sucedem-se, agora ao pormenor. Vai ver água a correr as ribeiras e tanques de águas cristalinas, inhames verdejantes que vão dançando ao sabor da água que lhes toca o caule, gente acolhedora que o convida para deliciar uma banana ou uma manga, enfim...
No final da sua aventura pelo vale, que muitos já classificaram como dos mais belos de Cabo Verde, a satisfação é plena e o orgulho de ser-se cabo-verdiano é, de certeza, reforçado. Apenas uma tristeza ficará – e esta não é por culpa ou falta de vontade da sua gente: a estrada para o vale (ou a falta dela)
De facto as gentes do vale clamam por uma estrada decente, uma rodovia que resista às cheias, porque aquela que há não passa de uma abertura feita pelos caterpilares. Esta é levada ao mar cada vez que corre as cheias. Mas a penúria não reside apenas no facto de esta “estrada” ser anti-chuvas/cheias. Ela é o itinerário de centenas de estudantes que sob o sol ardente demandam diariamente os bancos da escola na vila da Ribeira Grande. São obrigados a suportarem a fumaça deixada pelas viaturas que vão passando e do vento que não tem piedade de ninguém.
Costuma o povo dizer que uma estrada é o principal motor de desenvolvimento de qualquer zona. Ora, se se levar em conta a importância desempenhada pelo vale da Ribeira da Torre na economia de Santo Antão (e não só) visto ser um dos celeiros da ilha, então é facil perceber a ansiedade dos seus filhos em ter uma estrada condigna que lhes possa facilitar a vida à todos os niveis.
Não é facil aceitar que, por época das chuvas, haja produtos a perderem-se porque as cheias levaram a única via de escoamento dos mesmos. Por exemplo, constantes são as ocasiões em que dezenas de cachos de banana ficam amontoados nas margens da ribeira, e não há forma de os tirar dali porque a estrada desapareceu com um simples ribeiro provocado por uma chuvada. Também, frequente é um agricultor ter que pagar a alguns trabalhadores para que, com enxadas e pás, abram um pequeno traçado suficiente para uma viatura chegar até ao ponto onde estão os produtos, impacientes a aguardarem a sua viagem até ao ponto de venda (Porto Novo e São Vicente, principalmente)
Enfim, são várias as dificuldades por que passam os muitos habitantes do vale, causadas pela falta de uma estrada em condições. Tais dificuldades poderão ser debeladas com a construção de uma ESTRADA de penetração que, ao contrário daquela via que temos, resista às cheias e poupe os torreenses de esforços suplementares.
Com esta infraestrutura nós, os filhos do vale, vamos poder ver a nossa ribeira caminhar sob a estrada segura do desenvolvimento. E o nosso visitante já não terá motivos para torcer o nariz. E quererá voltar, sempre.

02 julho 2006

SINTA10

Sabedor, simples, afável e bonita é a tua gente
Agradável clima, sempre fresquinha e temperada
Narcotiza qualquer visitante
Transporta a vida para o Éden
Opulento em belezas naturais
.
Alteroso em manifestações culturais
Nô bé colá Son Jôn, Son Jôn reveltiód
Terra de mil maravilhas, mil esperanças
Aventura-se pela ilha
Onde dirás - Ó que terra sabe nha gente
Djédjim Neves

Nôs MariJoana

28 junho 2006

Saudosismo

Quando os carrapatos e a palha tinguinha ainda eram uma riqueza
Quando as ladeiras sem dono e sem cmida eram geometricamente demarcadas para recolha de matéria prima (tijolo vegetal)
Quando se antecipava a vinda da chuva (mais ou menos por esta altura) e se guindava nos cumes da casa
Quando ainda se preparava a cachupa e peixe seco para os heróis que montavam os cumes das casas, muitas vezes quase a desmoronarem e enfiavam palha e corda de pernas esticadas uma de cada lado qual cavaleiro em tourada
Saudades de um tempo passado ou um olhar encantado sobre uma obra que ainda persiste em tempos de TECNICIls e IÉFAGÁS?

21 junho 2006

A ilha em livro

Gentes das Ilhas - 61 histórias enquanto o sono não vinha
Peripécias, quase todas brotadas lá da ilha e que deixa um filho ausente sem sono.
Histórias que nos obrigam, enquanto o sono não vem, a viajar pelas entranhas da ilha, revivendo a infância, megulhando no quotidiano das comunidades que só(?) podiam dar a cara num livro de um filho desses cantos escondidos.
Histórias de gente anónima e conhecida, famosa e ignorada, sábia e analfabeta.
Histórias de figuras castiças que nunca, certamente, ter-se-ão sonhado com o seu rosto num livro, mas que agora percorrem o livro de folha à folha, ainda que não conheçam o B-A-BA
A ilha te agradece, Paulino, por teres tazido à ribalta esta nossa gente, estes nossos heróis sem nome, estas simples localidades, este dialecto, esta sabura...

12 junho 2006

A (marav)ILHA

"A mim cordód e'm sonhá
Cabo Verde era um paraíso
cheio de jardin florido...
(...) era riqueza na tchon,
era riacho ta corrê
era um beleza oiá
minis ta brinca na tchon..."
Quando o poeta sonhou e Bana interpretou, certamente não lembraram que em Santo Antão tudo isso é realidade.
Pois é, não se trata de Iguaçu Falls, nem dos Andes... é Delguédin

07 junho 2006

A (DES)ESPERANÇA DA VIDA

foto:Vá Ramos Enquanto nesta vida uns e outros desanimam-se, desligando-se de tudo, outros vão dizendo que a esperança é a última coisa a morrer, conservando sempre a fé de que um dia a vida lhes possa sorrir. Outros mais afortunados, vão gozando a vida proclamando a máxima tipicamente crioula "depôs de sabe morrê ca nada", ainda que esta sabura possa ser à custa do sofrimento de outrem.
Mas, não importa o sofrimento quando o que está em jogo é a obediência à lei do Senhor que manda "crescei-vos e multiplicai-vos!"

06 junho 2006

666 - diabo? besta?

6 de Junho de 2006. Por causa da data 6 de junho de 2006 poder ser abreviada com 06/06/06, isso atrai a atenção como um dia que deve ter alguma conexão com a Marca da Besta. Pode-se dizer que regressa neste dia o fantasma do 666.
O número 666 retém um significdo peculiar na cultura e psicologia das sociedades ocidentais. Como muitas pessoas tentaram evitar o número de "azar" 13 (a fobia desse número é chamado de "triskaidekafobia"), muitas pessoas procuraram um caminho para evitar o "Número do Diabo". O medo do número 666 é chamado de "Hexakosioihexekontahexaphobia".
Por exemplo, quando a gigantesca fábrica de CPU Intel introduziu o Pentium III 666 MHz em 1999, eles escolheram para o mercado o Pentium III 667 com o pretexto que, a velocidade 666,666 MHz não era mais específica que 667 MHz.
Enfim, anticristo, diabo, besta são alguns dos fantasmas que rodeiam este número. Coisa dos supersticiosos?


04 junho 2006

A MIM Ê DI LI

CASA DA CULTURA - seu nome é sugestivo e o spot que o anuncia (va) foi bem conseguido, pelo menos a julgar pelo impacto que teve na sociedade. É que a moda pegou e agora todos são di lí, todos mora li. Se virou moda é porque o povo acatou, e se o povo acAtou é porque gostou.
Mas... e as espectativas em torno do programa? É provavel que o spot di lí, onde até o Ministro da Cultura é di lá, tenha contribuído para colocar e rol de espectativas num nível muito alto. E agora todos criticam o programa, apelidando-o de fatela. É o apresentador que "não passa de uma grande fraude"; é ele que mexe muito com a cabeça; são os conteúdos que não espelham a cultura nacional; é o programa que destila uma pseudocultura; são as filmagens mal feitas, enfim... Ah, aqui eu também concordo. Com tantas falhas, até o cego vê! Por exemplo, quantas panorâmicas sem parar e em todas as direcções, eh Abrão? Isso maltrata o telespectador que fica a navegar ao sabor de tantos trambolhões que parecem vir de uma câmara operada por alguém que sofre de tendinite.
Dias há em que estava a ler o blog da Margarida Fontes*, onde foi publicado um texto que aborda o lado artístico do apresentador da Casa da Cultura. Nos comentários os crioulos aproveitaram para criticar o programa e seu apresentador. O Abrão, que não se fez de rogado, responde aos comentários, dizendo que tudo não passa de inveja e que o que querem é "atacar alguém que neste momento é uma figura pública (doa a quem doer)".
Ulalá, criol te gostá de mandá boca fedi, mas também criol te gostá de angaba e inganá sê cabeça.
Pronto, eu não tenho nada a ver com estas trocas de galhardetes. Só sei que, mesmo que "fatela", vou continuar a ver a Casa da Cultura, sempre que posso. Porque... afinal mim também a mim ê di li (já agora doa a quem doer)

26 maio 2006

Este poema que vos deixo...

A torpe sociedade onde eu nasci
Ser doido, que maior ventura!
Morrer vivendo p’ra além da verdade.
É tão feliz quem goza tal loucura
Que nem na morte crê, que felicidade

Encara, rindo, a vida que o tortura,
Sem ver na esmola a falsa caridade,
Que bem no fundo é só vaidade pura,
Se acaso houver pureza na vaidade.

Já que não tenho, tal como preciso,
A felicidade que esse doido tem
De ver no purgatório o paraíso...

Direi, ao contemplar o seu sorriso,
Ai, quem me dera ser doido também
P’ra suportar melhor quem tem juizo

António Aleixo - in Este livro que vos deixo

O snobismo da sociedade actual

Domingo é dia da gente
Por isso quero ficar na cama
Dormir, dormir, dormir
E quando acordar quero ver Domingo da Gente porque todos o vêem e também sou gente!
Ontem era sábado. A minha amiga foi àquela festa com um vestido que deixou-me a pensar a noite toda.
Perguntei onde é que ela o comprou. Não ficou lá muito contente por ter feito tal pergunta mas acabou por me dizer onde comprou e quanto custou.
A minha mesada não dá para comprá-lo mas já comecei a fazer uma poupança para ver se ainda este mês consiga tê-lo. Mas tem que ser já! Se demoro, ou sai de moda ou torna vulgar. Por isso, agora sequer estou a comprar aquele chocolate que adoro, pa-m pode popa
Por causa daquela telenovela que está a passar agora na tv, toda a gente la na escola veste como ela que é toda poderosa. Hum, eu não gosto da maneira de vestir dela, mas as minhas amigas todas gostam, logo, não vou ficar de fora, né?

Ontem usei aquela expressão que agora está na moda e um meu colega perguntou-me aonde fui arranjar aquilo. Toda a turma riu-se do coitado. Realmente o palerma não está neste mundo. Já aconselhámo-lo a fazer uma reciclagem.

Pooooxa, quel carrão lá, pá. Quel e nha sonho!!! Nha pai, quel antiquado comprá um cosa d’one 60, já’m dzel que el tem que sintonizá. Ma el ê teimoso. Bo sabê manera que ques gente lá ê, nem?

Filho, não deves fazer isso! Ah, mãe, deixa-me em paz, todos fazem e eu é que não vou fazer??? esta na moda, mum!
Filha, porque não usas aquelas calças que te comprei no ano passado? Nãao, são bonitas, gostava delas, mas já não estão na moda
Mas, filha agora já não há outra palavra que não seja moda? Ah, mãe, moda está na moda, e o que ta na moda não se incomoda. E moda Djony que comprá quel skoda. Tud gente dez’l que el era fei ma el dez que skoda te na moda.
Agora la na quel salão es te estód te feze quel pentear de quel mnina daquel publicidade, poxa agora, pe consegui um vaga bo tem que marca’l que antecedência.

Pooxa, e-m escreve descuidod, gora que ja-m repara! Ah, nao faz mal ta na moda

12 maio 2006

(CLAN)DESTINO - casta de destino ê ess?

Faz agora um ano que as autoridades marítimas cabo-verdianas surpreendiam uma embarcação que tentava sair de forma clandestina do país com mais de sete dezenas de cidadãos à bordo. O Jon Cabafumo, o maldito barquinho, foi interceptado na zona de São Tomé, Praia rural. Tudo apontava que o destino era a Europa, servindo as Canárias como trampolin.
Uma vez interceptada, a embarcação foi encaminhada para o Porto da Praia. Sob escolta policial, os ocupantes foram desembarcados e encaminhados para a Esquadra Policial da Achada Santo António. Permaneceram dias no país, tendo alguns activistas dos direitos humanos levantado algumas questões sobre a forma como estariam a ser tratados. Depois o governo encarregou-se de devolver os emigrantes aos seus países de orígem, tendo para isso, alugado um navio.

Já este ano, no mês de Janeiro um barco de pesca com 237 passageiros clandestinos oeste-africanos que pretendiam viajar para a Europa foi interceptado pela Polícia cabo-verdiana nas imediações do Porto da Palmeira, na ilha do Sal. A embarcação, baptizada com o nome "Florence" matriculado no Senegal, esteve ancorado durante algum tempo do Porto de São Vicente para reparações. Depois de deixar aquela ilha, o barco passou pelo Sal, onde teria recolhido grande parte dos candidatos à emigração ilegal. Segundo relatos dos clandestinos às autoridades cabo-verdianas, cada um dos passageiros pagou entre mil e mil e 500 euros para serem transportados inicialmente para as ilhas Canárias, de onde seguiriam posteriormente para um país europeu. O desfecho foi trágico, já que um bote que transportava os passageiros da terra para o bordo do "Florence" ter-se-ia afundado com várias pessoas a bordo. Mais tarde alguns corpos viriam dar à costa.
Há cerca de dois meses, as autoridades marítimas nacionais recebem um alerta de que estaria uma embarcação à deriva nas águas de Cabo Verde. O N/M Matiota partiu da Boa vista em direcção à mesma e ao aproximar-se o cenário não poderia ser mais macabro: 12 cadáveres, já em estado de decomposição, jaziam numa pequena canoa. Entre dificuldades e impasses em torno do destino a darem aos achados, a canoa acabaria por desaparecer no imenso horizonte do Oceano Atlântico.

Na semana passada, mais um caso: desta vez, vindo do largo da ilha Brava, as autoridades marítimas recebem um SOS de um barco que estaria com uma avaria. Partem em direcção ao barco, regatem-no e mais tarde descobrem que, para além da tripulação, havia mais de cinco dezenas de emigrantes clandestinos fechados no porão do pesqueiro.
Agora, lá estão os pobres desgraçados atracados no porto da Praia, à bordo do navio, a espera de um repatriamento. A Cruz Vermelha de Cabo Verde vai assegurando-lhes uma refeição por dia, até o momento de zarparem as águas rumo aos seus destinos, de onde querem a todo custo fugir.
Ainda nessa semana, agora na ilha do sal, cidadãos da nossa costa africana roubam um barco de recreio na Baía de Santa Maria, após terem forçado o único ocupante a lançar-se ao mar mediante ameaça com arma branca. (In)felizmente os desafortunados encalham na zona de Ponta Preta e a polícia consegue capturar alguns desses "raptores marinhos". O barco em questão pertence ao Oscar Duarte, antigo selecçionador nacional de futebol, que veio dizer que há muito que vinha sendo abordado por um cidadão que queria comprar o barco. Duarte assegura que não o fez por desconfiar que o comprador poderia estar elvolvido em tráfico humano.
Lia este fim de semana no "Olhares" de Marilene Pereira, a questão da emigração clandestina que, no olhar da jornalista, poderá intensificar em direcção à Cabo Verde em virtude das políticas cada vez mais cerradas na Europa, com vista a combater este flagelo. Estaremos preparados?
Ahh, ontem ouvi pla radio que um semanário sueco anunciou que a tal canoa que desapareceu das águas de Cabo Verde, após ter aparecido vindo não se sabe de onde, teria dado à costa nos Barbados.

25 abril 2006

Soft News semanal

Greve de fome
Dois empresários da Cidade da Praia estão em greve de fome desde a passada sexta-feira, 21 de abril. Os grevistas reclamam a propriedade de um estaleiro na zona de Achada Grande, que dizem ter comprado em 1998 e que foi agora vendido pela Camara Municipal à CVC. Lourenço e Carlos de Pina mostram-se dispostos a ir até ao fim com a sua forma de luta. Esta terça-feira os dois empresários receberam a visita de elementos da bancada parlamentar do MPD, e em declarações à imprensa disseram que se não forem atendidas as suas reivindicações o fim último é morrer.

Colocar a vida em risco para defender uma propriedade, eis o método.
T
hug's
A thugomania que invadiu a capital do país ultimamente continua a fazer das suas. Este jovem da Achada Grande-Trás foi vítima, na semanaa passada, dos desaforos dos chamados thug e quase que sucumbiu por entre golpe de facas e machins (cerca de 8 golpes por todo o corpo). Tudo terá acontecido nas imediações da discoteca Zero Hora.
Para onde caminhas, ó Cabo Verde querida?
Nha Terra nha Cretcheu
Alveno Figeuiredo e companhia devem estar a beira de um ataque de nervos. O principal partido da oposição denuncia, na voz do deputado António Pascoal Santos, alegados movimentos ilícitos em torrno da produção do programa das Terças e e Domingos na TCV. É que a empresa responsável pela sua produção - a Textimedia - é que esteve por detrás das campanhas do PAICV e de Pedro Pires nas últimas eleições, pelo que o MPD crê que haja um tipo de contrapartida ilegal entre esta e o estado.
Esta Terça-feira o PCA da RTC, Marcos de Oliveira, deu uma conferência de imprensa, explicando os meandros do contrato, que considera normal e recorrente entre os media e outras empresas. Ah, nha terra, bo ê nha cretcheu.
Casamento... para durar
Um homem residente na localidade de Salineiro (Santiago) completou este fim de semana 100 anos de idade e resolveu dar o nó. Feliz da vida, o aniversariante casou com a mulher de 78 anos, com a qual viveu a vida inteira. A festa foi bedju, com convidados especiais (Presidente República, elementos do governo etc, etc.) e câmras de TV.
Aos pombinhos todos desejamos que o casamento perdure para que possam celebrar, senão as bodas de ouro, pelo menos as de prata.

24 abril 2006

Rumores

Pegando no célebre poema de Jorge Barbosa - Rumores - que exalta a caboverdianidade através das coisas simples da terra, faço um "Rumores das coisas simples de Santo Antão" (desculpa Nhô Jorge por esta adulteração, mas não há má intenção nisso)
Rumores das coisas simples da minha ilha
de sê linga que te escoá n'uvid el te zni séb (moda te dze Cordas do Sol)
de ses rotcha que te po um vsitante que frio ne bérriga
d'um enxada de um camponês te escrepá tchon ne mei de pedra

Rumores das coisas simples da minha ilha
de se grog
de se gruguim outrora famoso ma que gora ti te estragá
de ses rbera chei d'aga
de um mulher ne mei de rbera te lavá ropa cum cónhot tervessod nó boca
de um Maria Joana te rbá meradé-riba de avental, lenço ne cabeça e pe nô tchôn

Rumores das coisas simples da minha ilha
de um contra-dança ne Figueiras
de um Valsa cherriada de tempe de nh'avó
de um Colá Son Jon moda Nhe Lolita
de um btá saúde moda Nhe Da Cruz, cónd um fi de tal flón te caçá no sorça ma filha de quel ot moer

Rumores das coisas simples da minha ilha
de um Juventude em Marcha te fzê conjada ma ses consoada
de um Cordas de Sol mas ses Viva Quel Bol te sbi Selada e dtchê Covada
de um Mikinha ma Kel Tempe
de um Naiss ma se Antoninha que bé estragá ne Soncent...

Rumores das coisas simples da minha ilha
de Bulimundo ma codizina de senhor Rei

de ques estória de cpotona ma ctcorrona
de ques artigo de Paulino n'asemanaonline te fze'm sinti sodéd de nhé ilha
enfim, de ses gent, uns amor de gent, sem veidéd nem meldéd



20 abril 2006

Monumentos e sitios

18 de Abril é consagrado como sendo dia dos monumentos e sítios. Instituído em 1972 pelo ICOMOS, organismo da Unesco, o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios celebra a diversidade patrimonial.
Em Cabo Verde temos uma diversidade patrimonial que considero inversamente proporcional às ínfimas dimensões geográficas do nosso país, composto por pedacinhos de terra. No entanto, este espólio de monumentos e sítios ainda carece de uma atenção especial, salvo algumas iniciativas como é o caso do programa que a Margarida Fontes nos vem brindando ultimamente. Mas isso é apenas um cheirinho do muito que poderá ser feito em diferentes latitudes.
Tirando a nossa Cidade Velha, agora rebatizada de Cidade de Santiago de Cabo Verde, as iniciativas em prol da divulgação/ preservação dos nossos sítios históricos são muito tímidas. O geógrafo José Maria Semedo falava disso há dias no Jornal da Noite da TCV e tocou num ponto que me fez soltar um berro: "Aaaleluia, alguém já se lembrou de que existe uma tal Alcatraz".
Pois é, J.M.Semedo, homem atento e de faro apontado para todas as direcções, disse que "todos falam da Cidade Velha e ninguém se lembra de Alcatraz", sítio onde ficava a outra Capitania criada na altura do povoamento em que a ilha de Santiago fora dividida nas capitanias do Sul, com sede na Ribeira Grande e a do Norte, com sede em Alcatraz.
O reparo do geógrafo veio mesmo a calhar. Tive o privilégio de visitar o sítio há bem poucos dias e pude constatar a beleza e o aconchego da baía ( foto em cima), o que certamente terá despertad
o o interesse dos portugueses na altura. Os vestígios da presença dos colonos, as marcas da sua passagem são evidentes e não se compreende a razão do total esquecimento deste sítio, um património nacional.
Bem, há dias uma equipa de arqueólogos do Reino Unido, que esteve em escavações no outro lado da ilha, Cidade Velha, visitou o sítio e... talvez se vierem a manifestar interesse em efectuar trabalhos no local, quem sabe o nosso pobre Alcatraz venha a ser relembrado. Assim até poderá bradar: "Cidade Velha, ainda te lembras de que também eu tinha um capitão donatário?"
Mas a nossa diversidade patimonial é espantosa e não se resume àquilo que nos foi legado pela história feita de senhores brancos, escravos, povoamentos, enfim.... Na nossa diversidade patriminial temos montanhas, ribeiras e vales profundos, edifícios, ilhéus, vulcões (muitos extintos), construções heróicas (um Delguédim,
por exemplo), mas também um Pedra Scribida (este abandonado ao Deus dará), enfim ...
Há dias ouvia um dirigente nacional a dizer que "tudo aquilo que as Canárias oferece como potencial turístico nós também temos". Em muitos casos em maior escala!

08 abril 2006

Entardecer na cidade


À tardinha na praça do Palmarejo todos se juntam para relaxar do stress de mais um dia de trabalho.
Todos são bem-vindos, todos fazem seu grog descontraídamente. Ninguém incomoda ninguém, o que importa é que ali tud criston, tud zimbron tem direito ne sê gota d'agua.
Praia Maria, Menina do mar, Pérola do Atlântico, como é fixe vivê na bô, porque afinal um mundo para todos é o que todos nós queremos

07 abril 2006

Omnis perit labor

Era um tal 1 de Março de 2006 (por sinal dia de cinzas que é uma ocasião para muita festa na ilha de Santiago). O dia sugeria festa, alegria, mas é neste dia que sou envolvido por uma onda fria que atravessa meu corpo de fio à pavio. A razão para este sentimento chama "Tenda do El Shadai"
Se fores à Pedra Badejo, quer seja em dia de sol, chuva, bruma seca (sero) ou seja lá como estiver o tempo, dê uma passadinha à Tenda do El Shadai. E não importa se és jovem, se és bêdjo, se é governante, se és um simples cidadão, ou um reles cidadão como diria um Pinto(n) da Costa. A tenda não dista muito da capital de Santa Cruz, se está no centro da vila, tome a direcção da Achada Fátima e em 15 minutos à pé já estás lá. Se está do lado de cá, à entrada da vila, suba a Ponta Achada e, dobrando uma colina em 10 minutos estás lá. Bem, não importa o caminho a tomar, o qu'importa é que chegues ao destino.
Quando estiveres já no perímetro onde se ergue a "colónia", abrande os passos e fite os olhos nas tendas, nas suas redondezas, nas tarefas dos seus inquilinos, no aspecto da "aldeia". Por momentos és "obrigado" a chamar à mente drogas, alcool, alcool, droga... poxa, tinha que ser esses palavrões?!!
Se puderes roubar um instante do teu pensamento e puseres a pensar em como deve ser a vida num local desses, tendo em conta as impressões visuais que te chegam nesse momento, certamente que vais lembrar de refugiados, de Somálias e Eritreias, de Cuítos... porque o cenário, à primeira vista te leva a essas realidades que nos chegam aos olhos através dos telejornais. (Apenas associações de ideias, claro, porque violência ali inexiste)
Chegámos ao pé da tenda principal, uma espécie de sala de visita ou de espera. No exacto momento o som de um sino ecoava mediante o bater energético de um jovem corpolento. Após cumprir sua tarefa veio ter connosco. Convidou-nos a entrar e fomos para o espaço, que é também onde se faz o culto. Espaço agradével, artisticamente coberta de palha, em estilo cónico (bonito sem dúvida).
Enquanto esperávamos a pessoa que o Butcha, meu colega, foi visitar, fomos apreciando a decoração do espaço, em grande parte embelezado por passagens do Livro Maior (belas caligrafias, eh!) Ainda, circundando os caminhos que dão pelas diversas tendas estão pedras cuidadosamente enfeitadas e cobertas de mensagens e versículos bíblicos. "A virtude não está em nunca nos termos caído, mas sim em se levantar cada vez que cairmos" - lê-se numa enorme pedra caiada que jaze defronte a entrada da tenda maior. Esta nos chamou a atenção e exclamei: "poxa então temos aqui muitos virtuosos". Sim, porque é só ver os olhos dos que se estão a levantar após queda. Pele sentadinha, olhares vivificados e penetrantes, contrastando com a sua postura moribunda e errante quando ainda estão quedados pelas ruas a deambular.
É só ver o empenho com que cada um se dedica à sua tarefa, consonte a ocupação do dia ditada pelo calendário de actividades.
Já quase a pensar na partida eis que ouvimos ao fundo um grito - "Rapaaaaz... bzot pra li??" Volto e vejo um velho amigo, um (outrora) guia turístico de São Vicente que por contingências do seu ofício, conhecêmo-nos nas Ribeiras de Santo Antão no decurso dos já idos anos de 95 ou 96, eu ainda tchota. Num misto de várias sensações, onde era notório a alegria de ter encontrado dois amigos que há muito não vira (eu e meu irmão) e um mal estar por nos ter encontrado naquele local, o rapaz nos abraçava, recordava episódios dos tempos que nos conhecemos, perguntáva-nos pelos familiares, faláva-nos desta sua experiência no El Shadai. Sem ser interrogado sobre isso, o jovem vai respondendo: "decidi vir p'ra cá porque não queria mais levar a vida que ia levando, entrei no barco e vim, ninguem me obriga a estar cá, basta verem que aqui é um espaço aberto, quem quiser fugir pode, niguém lhe impede, mas estou bem aqui...
Ah, como espero encontrar o rapaz fora desse submundo, como o conheci há anos de tenda às costas, guiando um francês que se aventurava pelas encostas, vales e montes da minha ilha.
Impsessionante como todos se entregam nas lides da vida lá na tenda, impressionante como os olhos brilham, como estão de moral em alta. Todos que por lá passam recuperam ao fim de tempos. Infelizmente, muitos quando saem não encontram uma política de (re)integração social que possa mantê-los longe da tentação. Logo, muitos, muitos mesmo, acabam por se recair, deitando por terra todo o trabalho de recuperação. Nestes casos, tristemente se diz: OMNIS PERIT LABOR

24 março 2006

Sinta10...com o encanto de uma ilha

Não há cidadão neste planeta que não fica extasiado quando visita a ilha de Santo Antão. A diversidade da paisagem, dominada pelas montanhas abruptas são de cortar a respiração. Ilha espantosa em todas as suas vertentes (cultural, histórica, geografica, humana...), a ilha de Santo Antão encanta. Ilha de gente simpática, bonita, acolhedora; ilha de brandos costumes; ilha verde, doce, alegre... ilha diferente.
_____________________________________


Sabedor, simples, afável e bonita é a tua gente
Agradável clima, sempre fresquinha e temperada
Narcotiza qualquer visitante
Transporta a vida para o Éden
Opulento em belezas naturais

Alteroso em manifestações culturais
Nô bé colá Son Jôn, Son Jôn reveltiód
Terra de mil maravilhas, mil esperanças
Aventura-se pela ilha
Onde dirás - Ó que terra sabe nha gente
Djédjim Neves

23 março 2006

CABO VERDE ilha a ilha

Este é o espaço da caboverdianidade
Dez ilhas, dez realidades, varios costumes, uma cultura


Santo Antão - sempre primer (ma mi'n den culpa)
Etê gozói inda ê trediçon e el te incontród ne tud nhe dimenson. Se bo bem né mim nunca més bo te escsê: se bô bem c'fom bo te bé fórt; se bo bem triste bo te bé content.

São Vicente - Mim é vizin de sintanton ma nem por isso...
mut cosa no tem semelhante.
Li no tem Porto Grande e sê
baía espantosa, orgulho de tud nôs. Mindelo, cidad alegre, paraiso pa m
undano. E-m tem
festival de Baía, e-m tem mas alguns cosa...

Santa Luzia - mim em ca tem gent por isso em te falá nha criol ê um bocadin de cada ilha que quês pescodor de sintanton, sonpcent e sniclau insino-m. Ma cuitód de mim, es diab te bem dess ot ilha bem sujé-m nhes praia e panho-m nhas cagarra. Ma em te content que Palacio de Varzea porque ultimamente es tem pensód tcheu na mim. Inclusive tud ques ministro bem visita-m. Em fcá content. Ma ja-m dzês quê e-m crê gente tembem.

São Nicolau
Haahahaha, bi, jo-m bem fale tembem. Li e-m te dob atum, e-m te dob farinha de pau... e-m tem rotcha Scribida, e-m tem seminario, e-m tem Chiquinho, e-m tem Paulino Vieira. e-m tem tcheu intelectual ma infelizment mut dez sta patchi par loa.
Sal - ont mi era terra de gent queztigód, ohe mim e terra de gent be pentiód. Quem bem na mim ca ta largó-m. nha aeroport e sala de visita de Cabo Verde. Nhas praia e... (sem palavra). Praquê maz...

Boa Vista - mim tem Santa Monica, Chaves, Curralinho... Dunas, Praias, tâmara, agora ê aeroport internacional. Ó Deus Maior e Deus, Ó Deus Calamidade, Bubista já manchê..

Maio - a mim ê piquinoti ma nha curaçon ê grandi. Na mim bu t'incontra madjôr área florestada di Cabo Verdi. ma tambê mim tem sal, mim tem Praia, mim tem Betu

Santiago - Aaaavemaria! pakê pâpia di mim. mim ê mas grandi qui tudu alguem.Ê mim ki teni capital. Ê mim ki teni mas tcheu alguem. Mim ta recebi guentis de tudu cou. Di santanton ti Brava. Mim ta ra~pica funaná sem manha.

Fogo - Dixan fra di mim tooommbê. Aaali an tene tcheu qui frâ. Uva, vinho, cafe ê cu mim. Nha vulcon gó, ta po nhôs tuuudo cu meeedo di mim. Ma mim e fixe. Nha poovu ê dreetu. Du ta fervi qui nem vulcon. ma du ca ta ofendi cumpanheeeru. Sicrê a bo ê Djuzê, Bicenti, Anrique, Salumon, Manel, du ta da fixe.
Brava - mim sta chatiado por isso em ca crê fra tcheu. Nha Djenti ê dretu ma isolaadu. Nu ta crê ê teni transporti regular pa no podi fica mas contenti. Ê na mim qui nasce Eugenio Tavares, Morna... ê di mim qui djentis começa ta ambarca pá merca. Um flôr pa nhos tuudo.

22 março 2006

P'la objectiva

Olho Clínico

Numa rua do Palmarejo, duas vacas empenham-se no seu trabalho diário de saneamento da cidade. A julgar pela dedicação com que fazem seu trabalho o salário deve ser bem atractivo





Momentos

Quando o momento é aprazível, os gestos fluem-se naturalmente

Nós e a nossa Cultura II

A estátua de Cesária Évora

Há dias os cabo-verdianos tiveram a oportunidade de acompanhar na RCV uma longa conversa com a Cesária Évora (coisa rara neste país ouvir durante cerca de hora e meia a Diva a responder questões de um jornalista.) Nessa mesma semana se podia ler num dos nossos jornais duas páginas de entrevista com a mesma artista. A este respeito bem que Nha Balila poderia dizer “Cesária está na moda”. Mas atenção, se ela agora está na moda aqui em em Cabo Verde, na terra dos outros há muito que está.
A propósito lembro-me agora de uma conversa que tivemos há bem pouco tempo na sala de aula (aquelas conversas que são para relaxar no meio das aulas cheias de teorias e tal). Estávamos a falar de Cesária Évora e alguém disse: - “Eu nunca vi a cesária a actuar ao vivo nesta cidade, é incrível”
Aos 64 anos Cize diz que, enquanto tiver forças, vai levar a nossa música para onde quiserem ouvi-la. Em resposta à pergunta “Para quando uma toureé pelas nossas ilhas?” Cize hesita e responde mais ou menos isso: “Djô já falá-m nisso. Ja’m dzê-l que nô te espiá. Ma quónd e-m te bem pe Cabo Verde ja-m te estód mut cansód de tónt actuação... por isso e-m te querê descansá. Ma ê um cosa pe pensá”.
Analisando bem, se a Diva está disposta a levar a nossa música para onde quiserem ouvi-la; e se responde hesitada à possibilidade de uma tourneé pelas ilhas... faz-me pensar: “Então, será que Cize pensa que queremos ouvi-la? Ao longo da entrevista Cize afirmou que “sónt de casa ca ta fazê milagre”. Cize disse também “mim ca tem brincadera q’nha França, ê de lá qu’em te sei pa espectáculos, ê pralá qu’em te voltá de espectáculos”
Cesária Évora faz questão de mostrar a sua gratidão para com a França. Também o caso não é para menos. Foi preciso eles (os franceses) dizerem que ela tem qualidade; foi preciso colocarem-na num pedestral para que nós, os santos da casa, pudéssemos reconhecê-la como tal.
Já agora, para quando uma estátua da Diva dos Pés Descalços nestas nossas cidades? Como diz o Pofessor Victor Da Rosa*, vindo lá do Canadá – “
Voçês devem muito à Cesária Évora. Se este país é tão conhecido não é por causa dos vossos políticos nem outros, mas sim por causa dela. Eu se fosse os vossos governanates arrancava aquele Diogo Gomes lá do alto do Plateau e em seu lugar colocava um monumento à Cesária Évora”
É verdade, uma estátua da Cize não custaria, certamente, muito aos nossos cofres. Pelo menos, não seria preciso muni-la de sapatos. Vamos aproveitar este "Rogamar" - mais uma obra prima da Cize - e rogar aos deuses dirigentes deste país que a brindem com um monumeto. Estátua já!

*Professor da Universidade de Ottawa, Canadá. Está em Cabo Verde para efectuar um estudo sobre o regresso dos emigrantes de Portugal e EUA.

09 março 2006

Oi GRILID

Exemplo animal
Passando pela Avenida dos Combatentes da Liberdade da Pátria, mesmo em frente ao Arquivo Histórico, fico admirado com o comportamento de um cão qualquer (merecerá este nome?)
O bicho vinha da Gambôa e queria transpor o alcatrão e alcançar o outro lado da avenida. Parou, olhou para ambos os lados mas pareceu ficar assustado ante o trânsito que fluía nessa via. De repente avança um pouco mais para cima e atravessa a estrada exactamente onde está uma passadeira, enquanto dois autombilistas páram-se impávidos a olharem para o transuente que atravessa a estrada pachorrento.
Quantos animais racionais andam por aí a precisar de um exemplo destes, hein!!??
ZOO
Ninguém já se escandaliza com as vacas urbanas no Palmarejo da amada Cidade da Praia, Menina do mar, Paixão Atlântica. Não, já ninguém fica incomodado, até porque essas criaturas dão bom jeito à Câmara Municipal por contribuirem activamente no saneamento do bairro (limpam todos os dias os contentores)
Mas se com as vacas já não há problemas, não sei se o mesmo se poderá dizer com outras criaturas. É que hoje, logo de manhã quando saía de casa, dou com duas mulas na esquina que dá para a minha casa. O palmarejo está a despertar o interesse dos animais de grande porte. Se o seu poder for igual à sua compleição física, então os moradores que se cuidem. ainda por cima com a polémica despoletada há tempos sobre a questão de se saber de quem é o Palmarejo...

Fraternidade

Meu irmão,
meu amigo
meu camarada
bo bem nha trás
ma bo ca ta fca pa trás
por mas que'em chetiób
por mais que no zangá
sempre no ta dá quel monzada
bo ê bom companher, um conselher... um gaiato
estaremos sempre j u n t o s

06 março 2006

ESS QUÊ NHA TERRA

Os ponteiros do meu relógio já haviam transposto o ponto que marca as doze badaladas. Desço de uma viatura Hiace e o ar que envolve meu rosto denuncia um ambiente diferente. Estou em Pedra Badejo, interior de Santiago, e vou ao encontro de um amigo que conheci há quase quatro anos, quando cheguei na cidade da Praia. O Objectivo é passar um dia agradável, não fosse uma quarta-feira de cinzas, ocasião para muita festa e fartura em Santiago, sobretudo no interior. A acompanhar-me, o meu irmão Jair mais um colega das lides académicas na Jean Piaget.
Antes de dobrar a esquina que dá para a casa do amigo, eis que deparo com ele na soleira de uma casa a jogar oro com um ancião. Hum, há quanto tempo não vejo esta imagem! Por instantes dou algumas voltas à cachola e recordo a minha infancia lá na pacata Ribeirinha de Jorge, zona do espantoso vale da Ribeira da Torre, Santo Antão. E lembro-me das joguinhas de uril (assim dizemos lá na ilha) que, de forma apaixonante fazíamos eu, meu irmão Jair e o Dêc, este último um craque que hoje se encontra lá nos States. Os nossos tabuleiros, imagine, eram doze buracos perfurados no chão. Escolhíamos um lugar onde a terra era dura e nivelada e então desenhávamos geometricamente os buracos, seis de cada lado. Como bolas de uril usávamos semestes de algumas árvores, mas também pedrinhas redondas e até bnic de cabra.
Ponho um stop na minha divagação e “desço” para a realidade que me circunda. Após fecharem uma ronda o meu amigo levanta-se e dirigimos à casa dele. À nossa espera uma mesa recheada, onde não poderia faltar o famoso cuscus com mel. Momentos depois o estômago de cada um de nós estava bem regalado e saímos em passeio pelos arredores da vila.
Cerca de uma hora depois regressámos à casa do anfitrião. A mesa está novamente reposta. Agora é almoço. Huf, quanta comida: couve, mandioca, peixe seco, arroz, xerem, enfim comida da ocasião. Volto para os meus botões e exclamo: - esta que é tradiçon di terra. E digo aos meus confrades que me acompanhavam: "Rapazes, não enchem o saco todo, porque vamos ter que visitar mais três ou quatro amigos. E olhem que eles não nos perdoarão se recusarmos as suas cozinhadas de cinza." Ê tradiçon di nha país.

CRIOL Ê BUSÓD

Cabo-verdiano ê um povo nimód. Smém pobre ma ligria en de felté'l. Tud hora el te sei que cada pirraça...
Enton, pa oiá quê realmente criol ê busód (xuxanti) te fcá registód alguns pirraça que te cuntcê quel ne dia-a-dia:

Es te contá que lá na ilha es prometê um senhor bon dnher se el pudesse dzê em 3 segund 3 palavra que te começá pe letra A. Enton el raciociná cum pressa el dzê: oçucra, orroz, orrlos...cuitód, fca sim dnher!
Algo parecid cuntcê que nhô filipe, omi lá de Djar Fogo. El incontrá ma um compatriota ne Sucupira, es po te falá de ses vida. Nhô Filipe voltá pa se interlocutor el dzêl: "a mim em teni Quato fiiidjo: - A, B, C e D. A di Anriqui, B di Bicenti, C di C(S)alomon e D di Djusê.
E esta eh...?

Conversa de namorados e ... tempos (verbais)
quem contá tava te passá ne sê caminho sosegód.. El uvi... ma pront, el ca tem culpa
Namorado: lembra ma bu ta flaba sempri ma bu ta amam
Namorada: A bo dja'n ca crebu mas
Namorado: poxa , ê ca bo qui ta flaba sempri ma mi era tudo pa bo?
Namorada: ah, si bem qui bu fla dretu: era, futuro, ja passou....

CARA DE PAU
Alguem cunquí na porta de Nha Joana. Nha Joana bé abri porta te corrê porque ês tinha cunquid tão fort...
Quónd el ébri porta el depará c'um Dona gorda e que presentá com cara mau: "e-m bem dzê bocê que quel catchôrr de bocê comem dois galinha
Nha Joana voltá ne descontra: "oh, muito obrigada pa ess aviso que bocê teve consideração de bem da-m. Assim hoje já-m ca ta precisá de preocupá em ranjá jantar pa nhe catchurrim

Ess foi ne soncent
Um gajo tava que falta d'uns trukin e el en sebia cmenê quel tava rengél. De repente el lembrá quel tava cum ocs (luneta) no bolso. Ma na verdade era apenas um ar, l'en dinha vidro. Enton el passá num broda que tava te bem nas calmas e el pedil pe comprél quel ocs. Ma como broda era espert el pdi pa oiá ocs e logo el oiá que era so ar. El mandá vendedor bé tocá lata.
Bem ot broda cum jet basofon, te espringá e tud. "broda compram ess ocs" - Dze vendedor. E broda respondê: "a mim em bem di Praia onti, em sta sabi na suncenti, ma li em ca ta cumpra cusa". Ma vendedor insisti: - "Exprimentá, depos bo te dcidi"
Enton broda tmá ocs el po no oi ma l'en dá conta se era so ar. El fcá content el dzê: "poxa es óculus ta fican claro. Nunca própi um odjaba oculus sima quel li. Em ta comprou el já.



Ot pirraça
Ne Soncent um pedrer foi tchmód pe costruí um ténk ne terraço dum casa. El Bé com tud sê conheciment el terminél ne cinc dia. Ma uquiê que cuntcê? Cónd el terminá de rebocá quel ténk el sei content te gavá de eficácia de se tróboi. Ma log el lembrá que quel tambor que servil de andaime tinha fcód la dent. Manera agora que el te trál dalá se ténk já te btód placa?

05 março 2006

RACISMO - será o cabo-verdiano um povo racista?

Se perguntarmos a qualquer cabo-verdiano se existe racismo neste país ele parece não hesitar na resposta: “Não, não há racismo em Cabo Verde” – retorque com uma vaidade contígua a um sorriso que se estende até a comissura dos lábios. Os folhetos turísticos referentes à Cabo Verde exaltam a Morabeza crioula, gabando-se da nossa fama de povo acolhedor. Que isso seja verdade parece ser pacífico. Mas então pergunto: somos realmente acolhedores quando se trata dos nossos estimados vindos do interior da nossa África? Aí a coisa muda de figura. Pode-se então considerar que esses folhetos estejam a dizer a verdade? Claro que, se excluindo os (outros) africanos, estarão a ser realistas. É que, quando pensamos em turistas, em estrangeiros que vêm à nossa terra, quem nos vem à cabeça são os brancos (europeus especialmente)
Há alguns anos, quando estudava o 12º ano, por ocasião da celebração do Dia Mundial da Luta contra a Descriminação Racial, que se celebra a 21 de Março, estivemos a fazer um trabalho sobre o racismo em Cabo Verde na disciplina de Cultura Cabo-verdiana. Por orientação do nosso professor, elaborámos um questionário dirigido aos alunos e professores (sobretudo estrangeiros) do Liceu Suzete Delgado. Mas o questionário estendia-se ao público em geral. Dentre outras questões pertinentes, perguntávamos se se considerava existir racismo em Cabo Verde. As opiniões divergiam-se, mas o que mais surpreendia (?) é que quase todos os estrangeiros inquiridos, ao contrário dos nativos, achavam que somos muito racistas. “Sendo vocês africanos, fiquei muito surpreendida quando cheguei cá, ao ver a forma como tratam os outros africanos que estão neste país!” – respondeu um dos nossos entrevistados, uma portuguesa a leccionar no referido liceu. Esta opinião/facto é elucidativo, e serviria como mote para se despoletar um debate em torno da existência em Cabo Verde de uma xenofobia e uma xenofilia. A primeira em relação aos outros africanos (os continentais) e a segunda em relação aos brancos, principalmente europeus. É só ver como são tratados os chamados “mandjacos”. (Há que defende que só o termo mostra essa descriminação). Basta comparar a nossa atitude face aos “mandjacos” com aquela face aos brancos. Totalmente diferente! E não vemos (não queremos admitir) que somos africanos! Também não deixa de ser irónico o facto de tratarmos de forma menos adequada os africanos continentais que aportam nestas ilhas: É que somos um povo de emigração e todos nós sabemos que também sofremos racismo lá pelo “velho continente”.
BCN