Se perguntarmos a qualquer cabo-verdiano se existe racismo neste país ele parece não hesitar na resposta: “Não, não há racismo em Cabo Verde” – retorque com uma vaidade contígua a um sorriso que se estende até a comissura dos lábios. Os folhetos turísticos referentes à Cabo Verde exaltam a Morabeza crioula, gabando-se da nossa fama de povo acolhedor. Que isso seja verdade parece ser pacífico. Mas então pergunto: somos realmente acolhedores quando se trata dos nossos estimados vindos do interior da nossa África? Aí a coisa muda de figura. Pode-se então considerar que esses folhetos estejam a dizer a verdade? Claro que, se excluindo os (outros) africanos, estarão a ser realistas. É que, quando pensamos em turistas, em estrangeiros que vêm à nossa terra, quem nos vem à cabeça são os brancos (europeus especialmente)
Há alguns anos, quando estudava o 12º ano, por ocasião da celebração do Dia Mundial da Luta contra a Descriminação Racial, que se celebra a 21 de Março, estivemos a fazer um trabalho sobre o racismo em Cabo Verde na disciplina de Cultura Cabo-verdiana. Por orientação do nosso professor, elaborámos um questionário dirigido aos alunos e professores (sobretudo estrangeiros) do Liceu Suzete Delgado. Mas o questionário estendia-se ao público em geral. Dentre outras questões pertinentes, perguntávamos se se considerava existir racismo em Cabo Verde. As opiniões divergiam-se, mas o que mais surpreendia (?) é que quase todos os estrangeiros inquiridos, ao contrário dos nativos, achavam que somos muito racistas. “Sendo vocês africanos, fiquei muito surpreendida quando cheguei cá, ao ver a forma como tratam os outros africanos que estão neste país!” – respondeu um dos nossos entrevistados, uma portuguesa a leccionar no referido liceu. Esta opinião/facto é elucidativo, e serviria como mote para se despoletar um debate em torno da existência em Cabo Verde de uma xenofobia e uma xenofilia. A primeira em relação aos outros africanos (os continentais) e a segunda em relação aos brancos, principalmente europeus. É só ver como são tratados os chamados “mandjacos”. (Há que defende que só o termo mostra essa descriminação). Basta comparar a nossa atitude face aos “mandjacos” com aquela face aos brancos. Totalmente diferente! E não vemos (não queremos admitir) que somos africanos! Também não deixa de ser irónico o facto de tratarmos de forma menos adequada os africanos continentais que aportam nestas ilhas: É que somos um povo de emigração e todos nós sabemos que também sofremos racismo lá pelo “velho continente”.
BCN
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