25 abril 2006

Soft News semanal

Greve de fome
Dois empresários da Cidade da Praia estão em greve de fome desde a passada sexta-feira, 21 de abril. Os grevistas reclamam a propriedade de um estaleiro na zona de Achada Grande, que dizem ter comprado em 1998 e que foi agora vendido pela Camara Municipal à CVC. Lourenço e Carlos de Pina mostram-se dispostos a ir até ao fim com a sua forma de luta. Esta terça-feira os dois empresários receberam a visita de elementos da bancada parlamentar do MPD, e em declarações à imprensa disseram que se não forem atendidas as suas reivindicações o fim último é morrer.

Colocar a vida em risco para defender uma propriedade, eis o método.
T
hug's
A thugomania que invadiu a capital do país ultimamente continua a fazer das suas. Este jovem da Achada Grande-Trás foi vítima, na semanaa passada, dos desaforos dos chamados thug e quase que sucumbiu por entre golpe de facas e machins (cerca de 8 golpes por todo o corpo). Tudo terá acontecido nas imediações da discoteca Zero Hora.
Para onde caminhas, ó Cabo Verde querida?
Nha Terra nha Cretcheu
Alveno Figeuiredo e companhia devem estar a beira de um ataque de nervos. O principal partido da oposição denuncia, na voz do deputado António Pascoal Santos, alegados movimentos ilícitos em torrno da produção do programa das Terças e e Domingos na TCV. É que a empresa responsável pela sua produção - a Textimedia - é que esteve por detrás das campanhas do PAICV e de Pedro Pires nas últimas eleições, pelo que o MPD crê que haja um tipo de contrapartida ilegal entre esta e o estado.
Esta Terça-feira o PCA da RTC, Marcos de Oliveira, deu uma conferência de imprensa, explicando os meandros do contrato, que considera normal e recorrente entre os media e outras empresas. Ah, nha terra, bo ê nha cretcheu.
Casamento... para durar
Um homem residente na localidade de Salineiro (Santiago) completou este fim de semana 100 anos de idade e resolveu dar o nó. Feliz da vida, o aniversariante casou com a mulher de 78 anos, com a qual viveu a vida inteira. A festa foi bedju, com convidados especiais (Presidente República, elementos do governo etc, etc.) e câmras de TV.
Aos pombinhos todos desejamos que o casamento perdure para que possam celebrar, senão as bodas de ouro, pelo menos as de prata.

24 abril 2006

Rumores

Pegando no célebre poema de Jorge Barbosa - Rumores - que exalta a caboverdianidade através das coisas simples da terra, faço um "Rumores das coisas simples de Santo Antão" (desculpa Nhô Jorge por esta adulteração, mas não há má intenção nisso)
Rumores das coisas simples da minha ilha
de sê linga que te escoá n'uvid el te zni séb (moda te dze Cordas do Sol)
de ses rotcha que te po um vsitante que frio ne bérriga
d'um enxada de um camponês te escrepá tchon ne mei de pedra

Rumores das coisas simples da minha ilha
de se grog
de se gruguim outrora famoso ma que gora ti te estragá
de ses rbera chei d'aga
de um mulher ne mei de rbera te lavá ropa cum cónhot tervessod nó boca
de um Maria Joana te rbá meradé-riba de avental, lenço ne cabeça e pe nô tchôn

Rumores das coisas simples da minha ilha
de um contra-dança ne Figueiras
de um Valsa cherriada de tempe de nh'avó
de um Colá Son Jon moda Nhe Lolita
de um btá saúde moda Nhe Da Cruz, cónd um fi de tal flón te caçá no sorça ma filha de quel ot moer

Rumores das coisas simples da minha ilha
de um Juventude em Marcha te fzê conjada ma ses consoada
de um Cordas de Sol mas ses Viva Quel Bol te sbi Selada e dtchê Covada
de um Mikinha ma Kel Tempe
de um Naiss ma se Antoninha que bé estragá ne Soncent...

Rumores das coisas simples da minha ilha
de Bulimundo ma codizina de senhor Rei

de ques estória de cpotona ma ctcorrona
de ques artigo de Paulino n'asemanaonline te fze'm sinti sodéd de nhé ilha
enfim, de ses gent, uns amor de gent, sem veidéd nem meldéd



20 abril 2006

Monumentos e sitios

18 de Abril é consagrado como sendo dia dos monumentos e sítios. Instituído em 1972 pelo ICOMOS, organismo da Unesco, o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios celebra a diversidade patrimonial.
Em Cabo Verde temos uma diversidade patrimonial que considero inversamente proporcional às ínfimas dimensões geográficas do nosso país, composto por pedacinhos de terra. No entanto, este espólio de monumentos e sítios ainda carece de uma atenção especial, salvo algumas iniciativas como é o caso do programa que a Margarida Fontes nos vem brindando ultimamente. Mas isso é apenas um cheirinho do muito que poderá ser feito em diferentes latitudes.
Tirando a nossa Cidade Velha, agora rebatizada de Cidade de Santiago de Cabo Verde, as iniciativas em prol da divulgação/ preservação dos nossos sítios históricos são muito tímidas. O geógrafo José Maria Semedo falava disso há dias no Jornal da Noite da TCV e tocou num ponto que me fez soltar um berro: "Aaaleluia, alguém já se lembrou de que existe uma tal Alcatraz".
Pois é, J.M.Semedo, homem atento e de faro apontado para todas as direcções, disse que "todos falam da Cidade Velha e ninguém se lembra de Alcatraz", sítio onde ficava a outra Capitania criada na altura do povoamento em que a ilha de Santiago fora dividida nas capitanias do Sul, com sede na Ribeira Grande e a do Norte, com sede em Alcatraz.
O reparo do geógrafo veio mesmo a calhar. Tive o privilégio de visitar o sítio há bem poucos dias e pude constatar a beleza e o aconchego da baía ( foto em cima), o que certamente terá despertad
o o interesse dos portugueses na altura. Os vestígios da presença dos colonos, as marcas da sua passagem são evidentes e não se compreende a razão do total esquecimento deste sítio, um património nacional.
Bem, há dias uma equipa de arqueólogos do Reino Unido, que esteve em escavações no outro lado da ilha, Cidade Velha, visitou o sítio e... talvez se vierem a manifestar interesse em efectuar trabalhos no local, quem sabe o nosso pobre Alcatraz venha a ser relembrado. Assim até poderá bradar: "Cidade Velha, ainda te lembras de que também eu tinha um capitão donatário?"
Mas a nossa diversidade patimonial é espantosa e não se resume àquilo que nos foi legado pela história feita de senhores brancos, escravos, povoamentos, enfim.... Na nossa diversidade patriminial temos montanhas, ribeiras e vales profundos, edifícios, ilhéus, vulcões (muitos extintos), construções heróicas (um Delguédim,
por exemplo), mas também um Pedra Scribida (este abandonado ao Deus dará), enfim ...
Há dias ouvia um dirigente nacional a dizer que "tudo aquilo que as Canárias oferece como potencial turístico nós também temos". Em muitos casos em maior escala!

08 abril 2006

Entardecer na cidade


À tardinha na praça do Palmarejo todos se juntam para relaxar do stress de mais um dia de trabalho.
Todos são bem-vindos, todos fazem seu grog descontraídamente. Ninguém incomoda ninguém, o que importa é que ali tud criston, tud zimbron tem direito ne sê gota d'agua.
Praia Maria, Menina do mar, Pérola do Atlântico, como é fixe vivê na bô, porque afinal um mundo para todos é o que todos nós queremos

07 abril 2006

Omnis perit labor

Era um tal 1 de Março de 2006 (por sinal dia de cinzas que é uma ocasião para muita festa na ilha de Santiago). O dia sugeria festa, alegria, mas é neste dia que sou envolvido por uma onda fria que atravessa meu corpo de fio à pavio. A razão para este sentimento chama "Tenda do El Shadai"
Se fores à Pedra Badejo, quer seja em dia de sol, chuva, bruma seca (sero) ou seja lá como estiver o tempo, dê uma passadinha à Tenda do El Shadai. E não importa se és jovem, se és bêdjo, se é governante, se és um simples cidadão, ou um reles cidadão como diria um Pinto(n) da Costa. A tenda não dista muito da capital de Santa Cruz, se está no centro da vila, tome a direcção da Achada Fátima e em 15 minutos à pé já estás lá. Se está do lado de cá, à entrada da vila, suba a Ponta Achada e, dobrando uma colina em 10 minutos estás lá. Bem, não importa o caminho a tomar, o qu'importa é que chegues ao destino.
Quando estiveres já no perímetro onde se ergue a "colónia", abrande os passos e fite os olhos nas tendas, nas suas redondezas, nas tarefas dos seus inquilinos, no aspecto da "aldeia". Por momentos és "obrigado" a chamar à mente drogas, alcool, alcool, droga... poxa, tinha que ser esses palavrões?!!
Se puderes roubar um instante do teu pensamento e puseres a pensar em como deve ser a vida num local desses, tendo em conta as impressões visuais que te chegam nesse momento, certamente que vais lembrar de refugiados, de Somálias e Eritreias, de Cuítos... porque o cenário, à primeira vista te leva a essas realidades que nos chegam aos olhos através dos telejornais. (Apenas associações de ideias, claro, porque violência ali inexiste)
Chegámos ao pé da tenda principal, uma espécie de sala de visita ou de espera. No exacto momento o som de um sino ecoava mediante o bater energético de um jovem corpolento. Após cumprir sua tarefa veio ter connosco. Convidou-nos a entrar e fomos para o espaço, que é também onde se faz o culto. Espaço agradével, artisticamente coberta de palha, em estilo cónico (bonito sem dúvida).
Enquanto esperávamos a pessoa que o Butcha, meu colega, foi visitar, fomos apreciando a decoração do espaço, em grande parte embelezado por passagens do Livro Maior (belas caligrafias, eh!) Ainda, circundando os caminhos que dão pelas diversas tendas estão pedras cuidadosamente enfeitadas e cobertas de mensagens e versículos bíblicos. "A virtude não está em nunca nos termos caído, mas sim em se levantar cada vez que cairmos" - lê-se numa enorme pedra caiada que jaze defronte a entrada da tenda maior. Esta nos chamou a atenção e exclamei: "poxa então temos aqui muitos virtuosos". Sim, porque é só ver os olhos dos que se estão a levantar após queda. Pele sentadinha, olhares vivificados e penetrantes, contrastando com a sua postura moribunda e errante quando ainda estão quedados pelas ruas a deambular.
É só ver o empenho com que cada um se dedica à sua tarefa, consonte a ocupação do dia ditada pelo calendário de actividades.
Já quase a pensar na partida eis que ouvimos ao fundo um grito - "Rapaaaaz... bzot pra li??" Volto e vejo um velho amigo, um (outrora) guia turístico de São Vicente que por contingências do seu ofício, conhecêmo-nos nas Ribeiras de Santo Antão no decurso dos já idos anos de 95 ou 96, eu ainda tchota. Num misto de várias sensações, onde era notório a alegria de ter encontrado dois amigos que há muito não vira (eu e meu irmão) e um mal estar por nos ter encontrado naquele local, o rapaz nos abraçava, recordava episódios dos tempos que nos conhecemos, perguntáva-nos pelos familiares, faláva-nos desta sua experiência no El Shadai. Sem ser interrogado sobre isso, o jovem vai respondendo: "decidi vir p'ra cá porque não queria mais levar a vida que ia levando, entrei no barco e vim, ninguem me obriga a estar cá, basta verem que aqui é um espaço aberto, quem quiser fugir pode, niguém lhe impede, mas estou bem aqui...
Ah, como espero encontrar o rapaz fora desse submundo, como o conheci há anos de tenda às costas, guiando um francês que se aventurava pelas encostas, vales e montes da minha ilha.
Impsessionante como todos se entregam nas lides da vida lá na tenda, impressionante como os olhos brilham, como estão de moral em alta. Todos que por lá passam recuperam ao fim de tempos. Infelizmente, muitos quando saem não encontram uma política de (re)integração social que possa mantê-los longe da tentação. Logo, muitos, muitos mesmo, acabam por se recair, deitando por terra todo o trabalho de recuperação. Nestes casos, tristemente se diz: OMNIS PERIT LABOR