19 dezembro 2011

... e morreu a esperança de ver Cise na Ribeira da Torre



Com a morte de Cesária Évora desvaneceu-se, para sempre, o sonho de ver a diva a actual no vale da Ribeira da Torre, em meio a luxuriante vegetação. Uma ideia que partiu do Paulino Dias e que, depressa, ganhou forma. Aliás, o mega-evento só não chegou a acontecer no passado dia 03 de Dezembro porque, entretanto, dois meses antes Cise retirara-se dos palcos, por aconselhamento médico. 

Todos os filhos do vale já estavam entusiasmadíssimos e não viam a hora de chegar o 03 de Dezembro. 
O anúncio da sua retirada dos palcos baralhou tudo, mas ainda mantinha acesa a nossa esperança de ver esse concerto de sonho realizar-se. A morte matou a esperança... Até sempre, Cise!
 

14 dezembro 2011

Concêi dód desprezód...

Os problemas enfrentados no início das obras da estrada de penetração do vale da Ribeira da Torre deveram-se à "falta de conhecimento mais profundo da realidade concreta da Ribeira da Torre, da história das suas cheias e a ausência de diálogo com os antigos construtores das obras de correcção torrencial no Vale, na altura da elaboração do projecto"
João Ferreira, representante do Ministério das Infra-estruturas, em Santo Antão, dixit!!!  


Cheias de Setembro deste ano na Ribeira da Torre (Foto: BCN)
Na minha infância, e até hoje na Ilha, ouve-se os mais velhos dizerem que "concêi dód desprêzód ê meldçôn de Kéin". Ou seja, o ditado refere-se a uma passagem na Bíblia segundo a qual Caim teria assassinado o seu irmão Abel, naquilo que a crença cristã reza como sendo o primeiro homicídio da história da Humanidade. A moral do ditado é que um conselho desprezado pode redundar-se numa tragédia.
Pois bem, quem nasce e cresce nos meios rurais muito cedo aprende a "ler" os sinais da Natureza, os caminhos que as cheias trilham ou podem trilhar, o que é mais ou menos seguro e imune às enxurradas, enfim, um abecedário que se aprende sem ser preciso ir parar aos bancos da escola.

Tudo isso para manifestar a minha estranheza em relação àquilo que acabamos por ficar a saber através do representante do Ministério das Infra-estruturas em Santo Antão, citado pelo Asemana on line aqui. O senhor João Ferreira confessa que "a falta de conhecimento mais profundo da realidade concreta da Ribeira da Torre, da história das suas cheias e a ausência de diálogo com os antigos construtores das obras de correcção torrencial no Vale, na altura da elaboração do projecto" estiveram na origem dos problemas enfrentados no início das obras.

INACREDITÁVEL e INACEITÁVEL! Como é possível?!! Perguntei assim que li a afirmação. Então, para se avançar com obras do género não é preciso antes elaborar estudos? Acho que é assim que se recomenda, quanto mais não seja, no caso em apreço, para se saber qual é a realidade do vale, bem como da história das suas cheias. 

Logo que as obras começaram a ganhar forma, com a construção dos muros e dos aquedutos, muitos eram os comentários que se ouvia entre os habitantes da Ribeira da Torre, sobretudo os mais velhos que, sem hesitar, vaticinavam que algumas partes da estrada estariam condenadas ao fracasso. Houve quem tivesse dito: "amox, kel êlgar lacin, ne 1960 e tal, aga levél tudo om; kel ot rócónt lá, escôrroço lêmbê'l tud ne 1984...  ógora oiá kmênera jas passá um estrédinha lá, es n séb ukiê kes te nê el ma Neturéza en de brincá!!".

O Sinta10, atento à a essas conversas de Nhu Naxu, ia captando o sentimento dos "visionários" da minha ribeira e de quanto em vez postava uma coisinha por cá. Por exemplo, já ainda em 2008, em pleno mês de Setembro começaram as obras das duas pontes da Ribeira Grande. Naturalmente, vieram as cheias de Outubro e levaram o que já tinha sido feito. Na altura num artigo publicado neste blogue escrevemos: "muitos, sobretudo aqueles sem estudo nem canudo, mas com experiência adquirida na escola da vida, já tinham previsto esta situação."  

O mau prenúncio estava então lançado. O que aconteceu exactamente 2 anos depois, em Outubro de 2010, veio mostrar que os mestres e doutorados da Escola da Vida, muitos dos quais nem sabem assinar o nome,  devem ser sempre tidos em conta, senão a tal máxima do Caim (kéim) encontra razões para se gabar da sua infalibilidade. Servirá isso de lição?