01 agosto 2008

Casta de cosa ê ess?

Acabo de ouvir isso na RCV, num despacho do jornalista Marco Rocha:
Duas cabo-verdianas em Portugal foram proíbidas, pela Junta de Freguesia de Benfica, arredores de Lisboa, de falarem crioulo no seu local de trabalho, por "perturbarem os colegas que nada entendem".
A medida foi prontamente contestada pelas visadas e pela Associação SOS Racismo que acham ser uma atitude xenófoba. A uma dessas meninas, inclusivê, já foi instaurado um processo disciplinar.
O autarca em causa contrapõe "argumentando" que já recebeu cerca de 5 queixas de colegas que nada entendem e, perturbadas, desconfiam que as moças possam estar a falar delas. Por isso, "a medida APENAS visa salvaguardar o bom ambiente no trabalho".
E se as moças estivessem a falar inglês? chinês, alemão???!!!!
Ulalá, já começo a ficar receoso: É que por cá, no meu trabalho, sempre que'm te ratchá nhe criol escferruntchent de Sintonton, muitos dizem não me entender. Estarei a perturbar alguém?!! Estou preocupado. (ah, qui nada moço, descansá, bo te ne bo terra)

Ponta do Sol, Pescadores e Cavala

Começa a vigorar a partir de hoje até 30 de Setembro próximo no país o período de defeso para a cavala preta. A medida faz parte de um conjunto de acções tendo em vista a “conservação e exploração racional dos recursos haliêuticos, em prol do desenvolvimento sutentável do sector das pescas”.
Apesar da medida pertencer a um pacote aprovado em 2005, portanto há já 3 anos, parece que muitos ainda não se consciencializaram do quanto é importante e necessário que haja um período interdito à pesca de certas espécies, quanto mais não seja para que as mesmas possam reproduzir-se “em paz” e garantir assim a continuidade da espécie.

É certo que qualquer medida restritiva do género tende a chocar com intereses económicos, sobretudo quando se trata das comunidades piscatórias que muitas vezes têm poucas alternativas de sobrevivência. No entanto, vista numa lógica de medio ou longo prazo, apercebe-se da utilidade de tais medidas.

A cavala é uma espécie bastante comum nos mares de Cabo Verde e, segundo o INDP, o cerco a essa espécie é ainda bastante expressivo nas comunidades de São Pedro (São Vicente), Palmeira (Sal) e Ponta do Sol (Santo Antão).
Ah, sim, Ponta do Sol! Falar de Ponta do Sol implica falar de pesca, implica falar, já agora, de cavala. Na região Norte da ilha não existem muitos ancoradouros de botes pelo que se pode dizer que a vila da Ponta de Sol se afigura como um grande bastião de pesca dessa região e, quiçá, de Santo Antão. Na vizinha vila da Ribeira Grande, não se pesca, pese embora situar-se a beira-mar. A propósito, abro um parentesis: há alguns anos, por altura do festival Sete Sóis Sete Luas, estava Tito Paris em palco, quando dedicou a música mar d’ilhéu “a todos os pecadores desta vila" (Ribeira Grande). E aqueles que estavam mais perto do palco gritaram em uníssono, ei e’n den pescador. O artista, apesar de parecer incrédulo, teve que reformular a dedicatória.

Mas voltando à vaca fria: é facil adivinhar o apuro dos pescadores da Ponta do Sol, neste período em que é proíbida a pesca da cavala. Arrisco mesmo a dizer, eu que não sou do litoral, que falar em pescado na Boca de Pistola (foto) quase que implica falar de cavala, caso contrário, hoje mar e’n dá pêxe. Mas a entrada hoje em vigor da medida, como sempre, não deixou os pescadores solpontenses indiferentes. Segundo o nosso HF, os mesmos estão chatiados porque a medida lhes apanhou de surpresa e reclamam porque deviam ser avisados com antecedência. (!!!???)

De qualquer forma todos devem empenhar-se no sentido de garantir o defeso dessa e outras espécies durante o período estipulado. Só assim poderemos garantir melhores dias para as gerações vindouras. Se medidas do tipo tivessem sido tomadas no passado em relação a outras espécies, talvez eu e meus colegas ainda tivéssemos conhecido na ilha esta espécie, por exemplo.
Saudosismos a parte, resta-nos desejar boas férias à cavala.

Obs: A cavala é tão popular pelas bandas da Ponta do Sol e zonas limítrofes que um dia nha Lurdes, lá de Selada, mandou o criado Ivanildo (moço lá de Ribeirinha Curta) ir comprar peixe no carro que vinha buzinando. Ivanildo chegou na viatura e ficou indeciso porque não viu “peixe”. Lá acabou por fazer a compra e regressando à casa rematou: "Nha Lourdes, mi’n otchá pêxe ma e’m trezê cavala”