Puvoçon (vila da Ribeira Grande) é onde estudei todo o secundário e resto do primário, isto depois de ter deixado, ao término da 3ª classe, a escola nº 9 de Lugar de Guene.
Da fresquinha casa, cuja cobertura de palha servia de ninho às galinhas (mas não era essa a escola do Póline), fui para a Escola Central, mais tarde batizada Escola Roberto Duarte Silva. O ambiente era diferente: muitas crianças, muitos professores, meninos com ares citadinos a contrastar com nós os "provincianos". Por isso, não raras vezes éramos gozados: "bsot ê de cómp", bsot ê uns cmê ovo", o que ocasionalmente culminava em brigas, tornos de pescoço ou socos.
"Bsot ê de cabeço, de cómp..." diziam. E nós : "Bsot te morá num côtche" (isto, numa alusão à orografia da vila. É que, circundada por montes, a urbe fica no meio dessas rochas o que nos levava a estabelecer uma analogia, bem depreciativa, com o cotche, recipiente esculpido em pedra/rocha e que serve de "prato" aos porcos.
A criatividade de uns e de outros ia buscando novas metáforas para qualificar o outro lado, consoante a proveniência. Eram tantas criações, mas dessa não me esqueço:
Certo dia, um coleguinha meu, bem busód, respondendo à uma das provocações de um menino de Puvoçon que zombava da sua proveniência, saiu com esta: "lembrá ei (a vila) ê único lugar que te ixisti, ondê que defunto ê que te fcá de cima de gente vive". Levantando o olhar em direcção ao cemitério do Alto de Sâo Miguel, que fica bem lá no alto (canto superior direito da foto), o busód soltou uma gargalhada ao mesmo tempo que desatava a correr, enquanto o interlocutor permanecia pensativo, talvez em busca de uma réplica que pudesse estar à altura.