28 junho 2006

Saudosismo

Quando os carrapatos e a palha tinguinha ainda eram uma riqueza
Quando as ladeiras sem dono e sem cmida eram geometricamente demarcadas para recolha de matéria prima (tijolo vegetal)
Quando se antecipava a vinda da chuva (mais ou menos por esta altura) e se guindava nos cumes da casa
Quando ainda se preparava a cachupa e peixe seco para os heróis que montavam os cumes das casas, muitas vezes quase a desmoronarem e enfiavam palha e corda de pernas esticadas uma de cada lado qual cavaleiro em tourada
Saudades de um tempo passado ou um olhar encantado sobre uma obra que ainda persiste em tempos de TECNICIls e IÉFAGÁS?

21 junho 2006

A ilha em livro

Gentes das Ilhas - 61 histórias enquanto o sono não vinha
Peripécias, quase todas brotadas lá da ilha e que deixa um filho ausente sem sono.
Histórias que nos obrigam, enquanto o sono não vem, a viajar pelas entranhas da ilha, revivendo a infância, megulhando no quotidiano das comunidades que só(?) podiam dar a cara num livro de um filho desses cantos escondidos.
Histórias de gente anónima e conhecida, famosa e ignorada, sábia e analfabeta.
Histórias de figuras castiças que nunca, certamente, ter-se-ão sonhado com o seu rosto num livro, mas que agora percorrem o livro de folha à folha, ainda que não conheçam o B-A-BA
A ilha te agradece, Paulino, por teres tazido à ribalta esta nossa gente, estes nossos heróis sem nome, estas simples localidades, este dialecto, esta sabura...

12 junho 2006

A (marav)ILHA

"A mim cordód e'm sonhá
Cabo Verde era um paraíso
cheio de jardin florido...
(...) era riqueza na tchon,
era riacho ta corrê
era um beleza oiá
minis ta brinca na tchon..."
Quando o poeta sonhou e Bana interpretou, certamente não lembraram que em Santo Antão tudo isso é realidade.
Pois é, não se trata de Iguaçu Falls, nem dos Andes... é Delguédin

07 junho 2006

A (DES)ESPERANÇA DA VIDA

foto:Vá Ramos Enquanto nesta vida uns e outros desanimam-se, desligando-se de tudo, outros vão dizendo que a esperança é a última coisa a morrer, conservando sempre a fé de que um dia a vida lhes possa sorrir. Outros mais afortunados, vão gozando a vida proclamando a máxima tipicamente crioula "depôs de sabe morrê ca nada", ainda que esta sabura possa ser à custa do sofrimento de outrem.
Mas, não importa o sofrimento quando o que está em jogo é a obediência à lei do Senhor que manda "crescei-vos e multiplicai-vos!"

06 junho 2006

666 - diabo? besta?

6 de Junho de 2006. Por causa da data 6 de junho de 2006 poder ser abreviada com 06/06/06, isso atrai a atenção como um dia que deve ter alguma conexão com a Marca da Besta. Pode-se dizer que regressa neste dia o fantasma do 666.
O número 666 retém um significdo peculiar na cultura e psicologia das sociedades ocidentais. Como muitas pessoas tentaram evitar o número de "azar" 13 (a fobia desse número é chamado de "triskaidekafobia"), muitas pessoas procuraram um caminho para evitar o "Número do Diabo". O medo do número 666 é chamado de "Hexakosioihexekontahexaphobia".
Por exemplo, quando a gigantesca fábrica de CPU Intel introduziu o Pentium III 666 MHz em 1999, eles escolheram para o mercado o Pentium III 667 com o pretexto que, a velocidade 666,666 MHz não era mais específica que 667 MHz.
Enfim, anticristo, diabo, besta são alguns dos fantasmas que rodeiam este número. Coisa dos supersticiosos?


04 junho 2006

A MIM Ê DI LI

CASA DA CULTURA - seu nome é sugestivo e o spot que o anuncia (va) foi bem conseguido, pelo menos a julgar pelo impacto que teve na sociedade. É que a moda pegou e agora todos são di lí, todos mora li. Se virou moda é porque o povo acatou, e se o povo acAtou é porque gostou.
Mas... e as espectativas em torno do programa? É provavel que o spot di lí, onde até o Ministro da Cultura é di lá, tenha contribuído para colocar e rol de espectativas num nível muito alto. E agora todos criticam o programa, apelidando-o de fatela. É o apresentador que "não passa de uma grande fraude"; é ele que mexe muito com a cabeça; são os conteúdos que não espelham a cultura nacional; é o programa que destila uma pseudocultura; são as filmagens mal feitas, enfim... Ah, aqui eu também concordo. Com tantas falhas, até o cego vê! Por exemplo, quantas panorâmicas sem parar e em todas as direcções, eh Abrão? Isso maltrata o telespectador que fica a navegar ao sabor de tantos trambolhões que parecem vir de uma câmara operada por alguém que sofre de tendinite.
Dias há em que estava a ler o blog da Margarida Fontes*, onde foi publicado um texto que aborda o lado artístico do apresentador da Casa da Cultura. Nos comentários os crioulos aproveitaram para criticar o programa e seu apresentador. O Abrão, que não se fez de rogado, responde aos comentários, dizendo que tudo não passa de inveja e que o que querem é "atacar alguém que neste momento é uma figura pública (doa a quem doer)".
Ulalá, criol te gostá de mandá boca fedi, mas também criol te gostá de angaba e inganá sê cabeça.
Pronto, eu não tenho nada a ver com estas trocas de galhardetes. Só sei que, mesmo que "fatela", vou continuar a ver a Casa da Cultura, sempre que posso. Porque... afinal mim também a mim ê di li (já agora doa a quem doer)