30 março 2010

Méria k'zê ke bo tem


Não chego a ser da geração dos famosos bailes nos terraços, ou então dos bailes de conjunto, este último muito falado nos últimos dias aqui em Cabo Verde. 
Em Santo Antão ficaram famosos muitos terraços onde aconteciam os tais bailes. Ainda hoje oiço falar muito do Salão Págá Pouco, ou então do Quintalona, um antigo espaço referência para os bailes de conjunto e outras actividades culturais na vila da Ribeira Grande (Puvoçon)

Embora fosse ainda criança, lembro-me de alguns terraços famosos onde aconteciam esses bailes. Lembrei-me agora do grupo Porto Grande a actuar, ao vivo, no terraço de Nhô João de Lúcio, em Ribeirinha de Jorge. Decorriam os primeiros anos da década de 90 e eu era ainda criança. Ficava a ouvir ao longe porque naquele tempo as crianças ainda tinham de ir para a cama com o cair da noite. Mesmo a partir da nossa cama era possível ouvir o ecoar dos sons que vinham dos terraços (esses não tinham, como é óbvio, isolamento acústico).

Por falar em Porto Grande, vale a pena trazer para aqui a quase lendária canção "Méria kze k bo tem" , uma melodia que, com muito humor, faz-nos viajar pelas profundezas da ILHA e mergulhar nas ricas tradições e crenças que outrora guiavam o seu povo. Quão famosa ficou essa música e tantos outros do grupo Porto Grande! Pena que o conjunto não tivesse gravado um único disco. Mas o seu trabalho foi decisivo para resgatar a cultura santantonense, como um dia reconhecemos neste artigo.

29 março 2010

Chuva Braba na Assembleia Nacional

Neste sábado, dia da mulher cabo-verdiana, o grupo teatral Juventude em Marcha, apresentou pela 2ª vez na Praia a mais recente encenação: a peça Chuva Braba.

O espectáculo aconteceu na ressaca de mais um aniversário do grupo. Este ano, a passagem das 26 velinhas, foi assinalada em estreita colaboração com a Câmara Municipal da Praia. O público soube acolher, uma vez mais, o grupo. A noite foi bastante agradável, com sala cheia e aquela gargalhada de sempre. Sinta10 esteve lá e registou alguns momentos da peça. Ei-los



Fotos: BCN

25 março 2010

Juventude em Marcha


25 Março 1984 - 25 Março 2010

26 óne e'n nê 26 dia

Parabéns ao grupo

Foto: arquivo do grupo (aqui)

24 março 2010

Água(r)dente


No início desta semana comemorou-se o Dia Mundial da Água e o lema para este ano girou em torno da "qualidade versus quantidade".
Em Cabo Verde o INGRH aproveitou a efeméride para debater, numa jornada de reflexão, a "Água limpa para um Mundo Saudável". Foi então que se despoletou a questão da qualidade da água que é consumida na Ilha Brava. Às antenas da RCV o presidente de INGRH, António Borges, disse que "a água consumida pela população da ilha da Brava possui mais de 400 por cento(!) de flúor do que recomendado pelas normas internacionais, que estipulam como nível normal 1,5 miligrama por litro. Na ilha das Flores o teor de flúor na água para o consumo humano é de sete miligramas por litro"

Finalmente, o problema parece ter saído do isolamento (uma das palavra mais usadas na Brava) para entrar na ordem do dia.  Agora é o Delegado de Saúde da Ilha das Flores quem veio dizer que "o excesso de flúor na água distribuída na ilha da Brava é uma caso de saúde pública", um problema que, para além da vertente estética relacionada com manchas nos dentes, contribui também para a degradação do esmalte.

É verdade, certamente todos os cabo-verdianos devem saber da existência de uma marca distintiva das gentes da Brava: os dentes amarelecidos e bastante degradados por causa de uma certa água. Mas este problema, de saúde pública, já agora, não afecta somente os bravenses. Em algumas localidades do Norte da Boavista (ver aqui) acontece o mesmo e também em algumas zonas de Santo Antão. Aliás, eis a razão por que trouxe o assunto para este blog. 
Quem visitar, ou conhecer os naturais de Monte Trigo, por exemplo, sabem que quase todos os habitantes têm os dentes amarelecidos e definhados por causa da água da zona. Gente bonita e simpática que acaba por retrair um sorriso que por natureza devia ser fácil e espontânea. 

Muitas são as zonas de Santo Antão onde a água tem componentes como fluor, sódio e outros em alta dose. São os casos, por exemplo, da água do furo de Horta Grande, em Ribeira da Torre ou a nascente de Estritin, em Caibros (foto). Um tema que poderá ser alvo de estudos aprofundados. 

Foto: nascente em Caibros. Por BCN

23 março 2010

Museu



"Os currais de trapiche tradicionais existentes em Santo Antão devem ser transformados em museus, por serem uma referência para a ilha.
A sugestão foi feita, domingo, pelo presidente da Câmara Municipal do Porto Novo, Amadeu Cruz, durante o Segundo Capítulo da Confraria do Grogue de Santo Antão, que teve lugar na cidade do Porto Novo. Amadeu Cruz, que é presidente da Associação dos Municípios de Santo Antão (AMANSA), considerou que os currais de trapiche tradicionais de Santo Antão podem ser uma importante oferta turística da Ilha das Montanhas e deu como exemplo o trapiche do proprietário Ildo Benrós, no Paul, muito visitado por turistas.
O referido trapiche, já com cerca de quatro séculos de existência (400 anos), é um dos mais antigos de Cabo Verde e recebe constantemente visitas de muitos turistas que se deslocam à ilha. Apesar da idade, o trapiche continua ainda a funcionar, segundo o proprietário.
O autarca Amadeu Cruz defende a necessidade de se avançar com o projecto de criação do Instituto do Grogue de Santo Antão e garantiu que a AMANSA está a trabalhar no sentido da padronização da produção do grogue de Santo Antão"

Fonte: Inforpress
Foto: Olhares (aqui)

17 março 2010

Figuras da Ilha

Péd K'Sóróla


Ribeirinha de Jorge, uma das zonas do vale da Ribeira da Torre, é  um lugarejo fértil em pirraças. Arrisco-me até a dizer que deve ser das zonas da ilha com mais "figuras" por metro quadrado. Péd K'sórola é um deles. Amante do seu kékin e do cancan, chegou a dizer um dia que iria dixar de beber ponche porque essa bebida tava estód te feze'l kustipód.

Mas, não é disso que vou falar, até porque cedo Péd pôde se aperceber de que não era esse derivado de "água de cana" que lhe causava constipação, mas sim o uso excessivo de tóbók puído.

Pois bem, Péd gosta das telenovelas, mas como é muito crítico, vê cada episódio sempre a comentar, o que as vezes irrita aqueles que estão por perto e que normalmente tendem a ficar hipnotizados ao passar de cada cena. Certo dia, Péd K'sorola ouve o anúncio de que a próxima telenovela da noite na Televisão Nacional passaria ser "Anjo Mau". Na sua qualidade de crítico, Péd ficou muito desiludido e, com cara de poucos amigos, barafustou: 
 - "Anjo Mau? Aaaanjo mau? Bsot é mut palhaço, condê q'ónje foi móu??? Mi'n séb ukiê que bsot tem ne kébeça! Antes era "Suave Veneno" (condê que veneno foi suave??), agora é "Anjo Mau". Ammm, bsot é mut palhaço!!!"   


Fotos: BCN

04 março 2010

Arlindo Évora sobre o novo CD do "Cordas do Sol":

"Tentámos evoluir, mas conservando aquilo que constitui a nossa linha original"


Depois de algum tempo "hibernado", o grupo "Cordas do Sol" voltou,  em Dezembro último, com um novo CD  -  "Lume de Lenha". O Disco, com 13 faixas, revela-nos um Cordas do Sol inovador, com um pendor mais universal e engajado com as questões sociais. 
Nesta entrevista, Arlindo Évora, líder do grupo, transporta-nos para o calor e os segredos do "Lume de lenha": explica o significado de algumas composições, fala das mexidas registadas no grupo e abre o jogo sobre a pausa que antecedeu este novo trabalho. 


Esta entrevista é a transcrição de uma conversa que Arlindo Évora manteve com a RCV+, em Janeiro, aquando da passagem do grupo pela Cidade da Praia, onde esteve a apresentar o novo CD.


Entrevista conduzida por: Gil Noro
Tradução/transcrição: Benvindo Neves

Para começar, falemos das mensagens contidas neste novo CD. O que traz de novo este "lume de lenha"?

Arriscámos trazer um disco com o máximo de conteúdo possível. Tendo em conta o novo panorama musical, onde há muita oferta, corre-se o risco de ser apenas mais um música a sair. Então, quisemos investir bastante no conteúdo. Trouxemos mensagens sobre assuntos mais universais, que vão desde a problemática dos direitos da criança, passando pelo problema da droga, o acesso  ou a própria protecção dos que já estão dependentes; homenageamos a mãe, mostramos o amor que ela nos dá, quisemos mostrar que é possível criar todos os filhos sem muitos recuros materiais, basta ter amor, educação carinho e protecção. Trouxemos também uma mensagem mais forte de carácter mais continental, que é a liberdade de expressão; o direito ao conhecimento, o não ao analfabetismo, mas também fizemos a nossa recolha das tradições orais de Santo Antão. Por exemplo a célebre forma de cumprimentar de antigamente (cumpéd lovód nosse senhor, kmenê k'ocê está); homenageamos também os pescadores, a própria mulher cabo-verdiana (ondê ke tem um cabo-verdiana, tem mut m'nino ne quintal ta gritá n'algazarra); abordamos o próprio homem da pedra, que trabalha com a pedra (ondê ke tem um pedrêr, tem um casa de palha e tem um sobród); a própria forma de cozinhar; os pescadores (ondê ke tem um pescador tem um cavala sék pa assá na brasa); enfim... são muitas mensagens que nos transportam para uma paisagem tipicamente cabo-verdiana.

E a nível sonoro, que novidades trouxeram?

Tentámos evoluir, mas conservando aquilo que constitui a nossa linha original. Introduzimos mais percussão, introduzimos bateria para fazer um acasalamento entre "djambe" e os outros elementos da percussão. Acrescentámos mais uma guitarra - a guitarra base para dar mais power e introduzimos uma voz feminina que veio embelezar mais a composição vocal. Deixamos de ter 4 vozes para passarmos a ter uma performance de 6. Como sabe, Cordas do Sol tem uma marca na forma como confere muita "cor" às canções. Temos um estilo próprio mas numa das músicas fugimos um bocadinho para beber nos ritmos Afro. Não se trata de uma morna nem de uma coladeira, mas também não é reggae, é uma mistura de ritmos, como um estilo mais afro, até porque nessa música homenageamos a Mamãe África. Temos também outras fusões em termos de géneros:  procuramos fazer uma fusão do Kolá San Jon com o Batuque, numa tentativa de aproximação à universalidade dos géneros musicais de Cabo Verde. Entretanto, não esquecemos do próprio San Jon típico de Santo Antão; temos a coladeira; fomos buscar também um bocadinho de samba... Como vê, este é um CD onde trabalhamos bastante, desde o género, a temática, os estilos, os instrumentos, buscamos inovação, enfim fizemos um trabalho que pensamos que o público entenderá rapidamente aquilo que quisemos trazer

E porque escolheram o nome "Lume de Lenha" para este novo Disco?

Fomos inspirar num tema que já existe e que é "lume de lenha". Mas, neste CD, o título tem um simbolismo: como tivemos muito tempo parado, muita gente pensou que tivéssemos desaparecido. Em Santo Antão, toda a comida que é cozida sobre a lenha dizemos que tem outo sabor.  Sabemos também que  demora um pouco mais a ficar pronta, mas, em compensação, tem outro sabor. Por isso, este CD, o seu conteúdo, o próprio projecto ganhou o nome de "Lume de lenha". É como se fosse um prato muito especial, íntimo, rústico, algo muito próprio que estaríamos a oferecer à Nação.

Porque é que estiveram tanto tempo parado?

Muita gente não entendeu essa paragem. Mas, para nós, tratou-se de uma paragem estratégica. Qualquer grupo enfrenta os seus problemas, evolui-se de uma forma, mas surgem também outros conflitos. Pode haver conflitos internos, mas também surgem problemas ligados ao prórpio processo de criação, pode registar aquilo que eu chamaria uma “paralização criativa”. Deste modo, torna-se necessário parar, inspirar-se para depois podermos renovar. Mas também tínhamos os projectos pessoais. Muitos viajaram para o estrangeiro e alguns quiseram ficar por lá. Enquanto isso, fomos trabalhando nos bastidores, trabalhar as composições, pensar naquilo que poderia ser feito. Durante esse tempo de meditação, aqueles que voltaram reintegraram o grupo. Mas houve necessidade de colmatar a lacuna deixada por aqueles que não regressaram. Nesse sentido, começamos a “namorar” um grupo de jovens, prepará-los para poderem criar o cordão umbilical que pudesse ligá-los ao Cordas do Sol. Digo isso porque Cordas do Sol é um grupo onde  as composições são muito íntimas, em termos de interacção entre os seus membros. Então, durante cerca de um ano estiveram a trabalhar, conhecer as nossas técnicas, aprender a gostar das músicas até entranhar nelas. E hoje demostram essa aprendizagem no projecto Lume de Lenha.

Qual foi a altura em que vocês acharam que tinha chegado a hora de gravar o terceiro disco?

Tínhamos muita pressão, muita gente nos perguntava se afinal não íamos continuar. Houve inclusive quem tivesse dito que Cordas do Sol havia desaparecido. Mas nós sabíamos que não. Estávamos a trabalhar as composições tud dbóx d’ômon. Depois, quando achámos que já estavam reunidas todas as condições para regressarmos, anunciámo-lo. Lembro-me que foi numa entrevista, em Novembro de 2008. Na altura anunciámos que o nosso regresso seria em junho e que a nossa nova temporada propriamente dita arrancaria com o lançamento de um novo CD, em dezembro. Conseguimos cumprir  a agenda precisamente um ano depois do anúncio e isso deixou-nos satisfeitos. Foi com muito trabalho, muita dedicação, porque tínhamos que evoluir. Como costumo dizer, não basta fazer duas notas para dizer que já tocamos, ou então não basta termos intenção de cantar para dizer que já somos cantores. Por isso tivemos que dedicar bastante, ler muito para que pudéssemos, de facto, evoluir. É que, estando na música, tens que encará-la como uma outra profissão qualquer que exige dedicação, muita pesquisa, já que tens que ter em conta que uvid de gente e’n ne tchkêr. As pessoas querem ouvir algo com qualidade.

E em todo esse trabalho, quais foram as principais dificuldades encontradas?

Veja, já não somos mais aquele grupo de amigos de uma mesma localidade, onde basta uma assobiadela para todos se juntarem no pátio da casa de um amigo. Os elementos agora estão dispersos. Uns estão no Paul, outros em Porto Novo ou São Vicente. Juntar os elementos  implica muitos custos, que vão desde as passagens, o alojamento... sabe, a parte logista é muitas vezes complicada. Havia necessidade de fazer ensaios intensivos e metódicos. Por iso essa foi a parte mais difícil! Só que todos estavam muito motivados, todos viram que afinal o projecto não era nenhum bluff, havia muita espectativa, muita gente a espera. Isso também motivou-nos mais e conseguimos ultrapassar as barreiras para concluirmos o projecto e hoje temos no mercado o CD.

Neste novo disco há uma música que se chama "Sôrron Rensód". Porquê "sôrron rensód?

Sôrron é uma espécie de mala feita de pele de cabra. Antigamente era usado para transportar mantimentos. Um indivíduo saía para a faina e levava dentro do sorron o seu farnel, a sua marmita de comida... Mas também, se fosse à vila, no regresso ao campo era aí que trazia as encomendas: - guloseimas, sucrinhas,  pão, bolacha, coisas que não existiam no campo. Então, num sôrron havia sempre uma coisa boa, um cusinha sabe, de manha. Se uma criança via uma pessoa com o seu sôrron pensava logo que havia algo de bom dentro: uma bolacha, um drops, um cosa de manha, enfim o sôrron era visto sempre como algo de muito bom. Por analogia, em Santo Antão ficou um dito: normalmente quando temos um grande amor, e por uma razão qualquer contrária à nossa vontade, houve uma separação, se depois de algum tempo voltarmos a encontrar dizem: Uhmmm, bsot cuidód kê sôrron ke já carregá tucin, se sol da na ele el te revê!!. Portanto, nessa música  homenageamos algumas pessoas de bem, que fizeram algo de bom no nosso meio. Como na música referimos os nomes dessas pessoas, então ficam metidas dentro desse sôrron. É que quando vemos um sôrron, lembramos de algo positivo. Daí esse título simbólico "sorron rensód".

Dá para ver que vocês andam pela sociedade santantonense, ou mesmo mindelense, à cata de situações do quaotidiano para fazem as músicas...

É isso... temos bastante trabalho de pesquisa e reflectimos bastante o nosso quotidiano. Cada música que fazemos tem que encerrar uma história, um significado.  Mas também procuramos resumir sempre as nossas hstórias. Cada poesia que escrevemos requer uma filtragem, para não dispersarmos muito daquilo que queremos transmitir. Temos a preocupação de dar às pessoas a oportunidade de acompanharem aquilo que estamos a dizer, sem fugir muito. Não podemos ter uma letra muito cansativa. Posso dizer que temos tido muita sorte de, em poucas palavras, em poucos versos, dizer aquilo que queremos e a mensagem passa.

Que projectos para este novo disco?

Bem como qualquer disco, a primeira espectativa é o lançamento, promoção e venda. Começamos na Cidade da Praia. Usamos o auditório nacional como rampa de lançamento. Aproveitamos para agradecer toda a mobilização dos nossos parceiros e a adesão em massa do público

Estavam a espera da lotação esgotada para o espectáculo no Auditório Nacional, na Praia?

Antes de mais, devo dizer que ter lotação esgotada no momento do lançamento de qualquer projecto parece-me ser o sonho de qualquer artista. Mas devo dizer que isso foi também graças à todo um trabalho de promoção e divulgação, feito pela rádio, pelas televisões, pelos jornais, amigos, etc. Sem essa promoção creio que não conseguiríamos ter esse registo. Fizemos a nossa parte, mas sem a colaboração dos órgãos de comunicação social, não conseguiríamos. Mas, sinceramente, tínhamos algumas dúvidas. Sabemos que em Santiago há uma grande paixão pelo Cordas do Sol e nós também temos muito carinho para com a ilha, mas a questão dos espectáculos as vezes é um bocado relativo. Algo poderia correr mal, mas tudo correu bem e estamos satisfeitos.

E depois da Cidade da Praia, qual é o próximo passo?

Vamos preparar a montagem de um concerto em São Vicente, que é também um grande centro para nós. Vamos prepar também 3 concertos para Santo Antão (Porto Novo, Ribeira Grande e Paul) todos devem acontecer numa mesma semana. Depois temos um lançamento na ilha do Sal. Neste mês de Março vamos à Portugal, segue depois Paris, e outros.

Que mensagem deixa para quem gosta do grupo Cordas do Sol?

Temos dito que nós não estamos a vender o CD. Estamos, sim, a fazer uma troca. Oferecemos o disco e o público colabora com a sua edição. Portanto, pedimos a todos para comprarem o CD para ouvir ou então oferecer. Mesmo que já o tenham no computador ou num MP3,  não faz mal, são meios que temos que utilizar, mas que não nos impedem de comprar o CD. Despender 1300  ou 1500 escudos no trabalho não é nada.  É como se um amigo tivesse encontrado o grupo e para comemorar o regresso, decidisse pagar uma cerveja. Somos 8 elementos, mais o amigo já seriam 9 cervejas, o que dária 900 escudos. Ora, normalmente, não se bebe uma única cerveja e, em Santo Antão, costuma-se dizer que não se anda com apenas um pé. Volta-se então a pedir mais 9 cervejas para o grupo e já foram 1800 escudos. Então, comprar o CD seria exactamente como pagar duas cervejas ao grupo, sem contar que ganhaste por não ter usado alcool. Acabaste sim, por comemorar de forma saudável e ainda ganhaste o direito de reivindicar outros trabalhos, uma forma do Cordas do Sol continuar a fazer um bom trabalho.

E ja agora, Cordas do Sol tem sido vítima de pirataria?

Nao, quanto a isso não temos razão de queixa. Fazemos questão de dizer isso.

Isso deve-se ao carácter tradicional do vosso trabalho?

Acho que sim, mas veja, o CD chega e esgota. Há pessoas que dizem: "eu não consegui arranjar o CD". E quando digo que não faz mal e que podem copiá-lo, elas retorquem: "não, eu quero o original, não quero cópia". Isso é interessante, consegues ver o carinho das pessoas, é algo de tão especial que faz com que não tenhamos receio.
Mas antes de terminar não poderia deixar de mandar um abraço às velhas guardas que não conseguiram participar neste projecto, como é o caso, por exemplo, do Djudjuck e outros. Sei que no fundo existe a ideia de que Cordas do Sol ficou com poucos elementos, mas não é verdade. Em princípio, saída mesmo foi apenas a do Djudjuck. Ele ficou nos EUA, casou, uma portuguesa tomou conta dele (risos). Mas ele está bem e consideramo-lo com sendo ainda do Cordas do Sol. É pena não termos contado com o seu contributo, sentimos a falta do seu companheirismo, mas, como sabe, a regra diz que quem não treina não joga. De todo o modo, estamos satisfeitos. A nível técnico temos o Bruce que presta todo aquele suporte técnico. Enfim, houve saídas e entradas, os grupos são dinâmicos e é assim que vamos continuar.