09 novembro 2013

ESPLANADA NOVA AURORA:- QUEM TE VIU....





Até meados da década de 2000, era o ponto de referência da Cidade da Ponta do Sol. Era o coração da então vila. A Esplanada Nova Aurora funcionava como o epicentro das noites então movimentadas da Ponta do Sol. Aos fins-de-semana, à noite, era uma dor de cabeça encontrar um lugar vago para se sentar com um colega para dôs déde de conversa, cmê um batata frita ou bibê um cosa qualquer.

Hoje, está lá, moribunda, quase abandonada, a viver só das recordações de outrora. Neste permanente estado de saudosismo, a Esplanada tem como confidente a bela Praça que fica mesmo a sua frente. As duas vão partilhando as alegrias proporcionadas pelo intenso movimento dos jovens e menos jovens: do ir e vir na praça num interminável giro (o tal "fazê grogue"); dos encontros e desencontros de namorados, das piadas, da fresca brisa do mar ali bem perto, do friozinho irritante de Dezembro-Janeiro-Fevereiro, enfim... recordações de um tempo recente, que até já parece longínquo!

30 outubro 2013

Fêdogósa, Cnéfista, Non-me-toques... cadê vocês!!!????

O Decreto-Parlamentar nº 7/2013, publicado no BO nº 23, I Série de 09 de Maio de 2013, aprova a Delimitação do Parque Natural de Cova, Ribeira de Paúl e Ribeira da Torre, Santo Antão, pertencente à Rede Nacional das Áreas Protegidas.
O Decreto expõe os motivos que estiveram na base da declaração de Cova, Ribeira de Paul e Ribeira da Torre como áreas protegidas, na categoria de Parque Natural, justificando que é "uma das áreas com a maior concentração de espécies endémicas de São Vicente" (no BO há uma gralha imperdoável, escreve-se São Vicente, em vez de Santo Antão).
Ainda, da leitura do texto do Decreto, fica-se a saber que, das espécies inventariadas na área supra-citada, 36 são endémicas e representam 76% das espécies encontradas em Santo Antão. Até aqui tudo normal. O que me preocupa é saber que 44% dessas espécies endémicas estão na lista vermelha de Santo Antão e 59% na lista vermelha do Arquipélago.

Pois bem, ao ler este dado, pus-me a pensar: Realmente, quantas espécies vegetais com as quais convivia diariamente na minha infância lá na ILHA, e que há muito tempo não vi sequer um exemplar???? 

São os casos de:
  •  Fêdogósa  - uma plantinha méfe pô fronta, um mondinha mesmo chato (mas onde k'ess pléntinha bé???)
  •  Cnéfista - outra plantinha méfe, mas bonitinha! E(ra) bastante estimada pelos velhos da Ilha que viam/vêem nela muitas propriedades medicinais (diazá mi'n oiá um pé de Cnéfista)
  •  Palha-Teixeira - ao longo do leito da Ribeira das ribeiras da ILHA esta plantinha nascia aos montes. Ao contrário das duas anteriores, esta é bem cheirosa e dá um chá bem coradinho e muito bom para diversas enfermidades (o k é feito de bo, Palha Teixeira?)
  •  Tribinha - outrora nascia aos montes, sobretudo ao pé dos socalcos (pê de pêrede). Era tido como rêmêd sónt para dor de dentes, as folhinhas têm um gostinho salgado. Hoje é raro ver um pé de Tribinha
  •  Non-me-toques - a planta mais curiosa que alguma vez conheci. Deve ser dos mais estranhos do mundo. O seu nome deriva-se do facto de não suportar qualquer toque, por mais leve que seja. Basta tocar nas suas folhinhas para que a planta murche num instante. Quando era menino havia alguns exemplares na casa da minha avó, e nós divertíamos imenso a "gozar" com o Non-me-toques. dávamos o toque, a planta murcha de imediato, ficávamos a espera durante uns 10 minutos, até que voltasse a recompor-se para de novo darmos o golpe. Passados uns anos nunca mais vi qualquer exemplar desta planta incrível


Enfim, eu poderia enumerar aqui muitas outras espécies com as quais outrora convivíamos diariamente la na Ilha e que hoje tornaram-se raríssimas ou desapareceram mesmo.

Obs: os nomes das plantas apresentadas aqui são tal qual nós as chamamos ou chamávamos lá na ILHA. Não tive qualquer preocupação em trazer a verdadeira designação ou nome científico.

15 outubro 2013

VIAGENS NA MINHA ILHA: RUA COR DE ROSA

Rua Cor de Rosa @ Benvindo Neves

Rua Cor-de-Rosa (caramba, porque cor de rosa!!!??) é, sem dúvida, uma das ruas mais emblemáticas da Ponta do Sol. Outrora, dizem, foi muito importante, quase que o centro daquela vila (cidade): Hoje perdeu protagonismo.
Mas, a rua pode gabar-se de reviver seus tempos áureos: serviu de cenário no mais recente telefilme do agrupamento teatral Juventude Em Marcha, "Órfãos de Penedo" O Telefilme foi rodado em diferentes pontos da Ilha (Ribeira da Torre, Cidade das Pombas (Paul), Ponta do Sol...). Nas cenas da Ponta do Sol é na Rua Cor de Rosa que se desenrola boa parte das cenas (Rua Cor de Rosa, Cais de Boca de Pistola, Escola do Ensino Básico Integrado). É na Rua Cor de Rosa que Nhe Sébine, uma das personagens, te dá kel grito "ó poooooooove!"

Vale a pena ver mais esta produção do Juventude em Marcha. Antone de Luce ou Jôn Nervose (ups, gent e'n de insultá gent),  é mais uma grande personagem encarnada pelo Grande actor César Lélis.

24 setembro 2013

NHANA - Contos e Factos


A LARGADA

Este episódio revela um dos acontecimentos mais fatídicos na vida de Nhana: partiu uma perna (a rótula) com um balaio de goiaba à cabeça. Na altura, ainda o filho primogénito nem tinha completado 2 anos. O acidente marcaria, para sempre, a vida desta mulher.

"Andei um dia intêr em cima de um exército de homens incontáveis. Julguei, verdederêmente, que eram homens filhos de Deus que me transportavam"

M
ariana estava mesmo decidida: Iria deixar Cómp de Porto e ninguém conseguia destituí-la da sua determinação em mudar de ares. Nem mesmo os conselhos da madrinha que a deu gozói enquanto aguardava o dia da largada a fez mudar de ideias. Não se pode garantir que ela tenha exitado após as advertências da sua madrinha, mas quem visse Mariana nos três dias que antecederam a partida notaria que a face estava muito carregada e que talvez andasse muito pensativa. Ou teria arrependido da sua decisão  algo pouco provável já que a mulher era daquelas que quando cismava com uma coisa não mudava nem que lume nó polpa. Ou então teria ficado abalada com o sermão da madrinha, mulher boazinha, muito respeitada nas redondezas. Esta hipótese seria a mais provável, uma vez que teria mexido com os preceitos morais e convicções religiosas de Mariana, criatura extremamente devota e que seguia (bem, pelo menos tentava) à risca os ensinamentos da “Santa Igreja Católica Romana”. Ademais, Mariana via na sua madrinha uma segunda mãe, a quem não convinha desobedecer, mesmo porque acreditava piamente na máxima ditada pela sua fé cristã e propalada por toda a comunidade: “conselho dód desprezód é meldiçon de Caím”. A isso, Mariana juntava o dito popular, não menos respeitado, segundo o qual “palavra de madrinha é sogród e sel vrá praga el te pegá que nem pegá-saia ne ropa d’elgudon”.
Como se pode notar, Mariana estava perante um dilema muito delicado, porquanto entrava pelo meio questões sagradas passíveis de entrar em choque com a sua devoção.
Mas haveria coisa mais sagrada em Mariana do que manter a palavra? Ulalá! Em nome da sua palavra, Santa Palavra, ela iria mesmo partir. Ainda faltava um dia para a retirada, mas as bujigangas já estavam todas bem preparadas.
“Filha, emnhâ bo ti té bé sempre, nem? Apôs, Deus te bé bo diente e bo trés, Ele te lem'nhób tud pósse que bô dá, quê bo séb, Kênder de Noss’Nhôr e’n de pagá nunca!” Essas palavras da Madrinha trouxeram muito ânimo à afilhada e os olhos dela brilharam que nem um candeeiro com tercida nova.
“Ma e’n nê pe esquecê um cosa” – prosseguiu a madrinha – “mésm sêbendo que quel kênder de Noss’Nhôr e’n de pagá com nenhum vento, mundo é chei de estéférme e Sténés te andá te espiá ondê impessê.”  Esta ressalva fez com que os olhos da afilhada agora minguassem um pouco, como se aquele candeeiro, qu’en de pagá nunca, tivesse prestes a secá pitrôl.   
Mas para frente é que está o caminho. O dia ainda estava a começar e a partida era só amanhâ, o tal Sábado. Por isso, até lá, a vida continuava normalmente. Mariana, que era uma mulher com especial apetência para negócios tinha a sua espera uma balaio de goiaba que iria vender em Porto Carvoeiros. O produto tinha sido colhido no dia anterior por uma senhora amiga da madrinha e até então permanecera numa tarimba à espera de destino. Mariana, depressa se prontificou em ir vender “aquela fartura”, quanto mais não fosse para, antes de partir, mostrar um gesto de gratidão à mulher que a havia amparado.
E partiu em direcção à Porto Carvoeiros. De alberca nos pés, porque o caminho era longo e a terra do deserto assava a planta dos pés, avental na cintura para ajuntar os tostões que fosse amealhando, lenço na cabeça e redia para assentar o enorme balaio em formato cilindrico e que quase transbordava de goiaba.
Já passavam das 7 horas. Mariana pede que a madrinha a ajude a aportar a pesada carga, despede-se e parte pachorrenta. “Deus te cumpónhob, filha” - acenou a madrinha.  E de facto, era preciso que o Senhor a acompanhasse a cada pisar e levantar dos pés. Até chegar ao destino, a vendedeira teria que percorrer mais de 20 kilómetros, por entre veredas que atravessavam ribeiras e ladeiras. Mas nada que a intimidasse, porquanto era usual Mariana fazer essa maratona de balaio à cabeça juntamente com as companheiras de negócio que sempre diziam: “prima Mariana que é nossa guia.” Entretanto, nesse dia tinha ido sozinha.
E mal tinha percorrido uns 4 quillómetros acontece o que menos se esperaria. Mariana, que ia a uma velocidade media (o peso da carga não a permitia apertar muito o pé no acelerador) escarrila e cai de forma encolhida. O peso do corpo e do balaio caem-lhe em cima. Mariana fica com a perna direita dobrada por baixo do corpo e uma dor insuportável a invade. A viajante tem a rótula partida. O despiste aconteceu quando se livrava de uma platcha de bosta de burro que inundava o caminho. “Já’l dá um cunclut, ja’l esclirrá, é quem quel? É Mariana de Jon Mértim” – ouvia-se ao fundo umas vozes.  Depressa vem assistência. Uma selhora, duas crianças e um homem robusto chegam ao local. Mariana contorce, as dores são insuportáveis. Com o joelho partido, a perna direita está bléngue. Enquanto os adultos fazem-lhe esfrecson, as duas crianças juntam as goiabas que ficaram espalhadas pela ladeira. Estão todas cheias de terra. Umas, depois de lavadas, ainda servem. Outras, completamente plótchód, só servirão pa dá tchuc pe cmê. 
Mas o mais importante agora é a saúde da Mariana. “Pondê no te level? Pe Carvoeiros ? Não, prêquê, pralá e’n den doctor. No levél pe Jontbent, ê remêd de terra que ti te bé curél.”
Mariana, mesmo a contorcer com dores, deu ordens para que a levassem para a casa da madrinha, de onde havia partido momentos antes. O regresso à casa era feito agora às costas, coisa que a rija mulher certamente só a fizeram quando ainda era bebé.
Depois de enfrentar algumas dificuldades (dificuldades previsíveis e inerentes à uma tarefa tão delicada como a de carregar no lombo uma pessoa com uma rótula partida) Manuelzinho, que de diminuitivo apenas tinha o nome, chegava à casa da madrinha com a mulher às costas.
Ao ver a afilhada naquele estado, a madrinha ficou inconsolada e pos-se a chorar. No meio das dores, Mariana ia dando ordens para que a aliviassem o sofrimento com um  pano de algodão embebido em água morna e salgada. Enquanto isso, Manuelzinho reunia leite de bombandeira para esfregá-la naquela junta desjuntada  ... enfim cada um era médico a sua maneira e prescrevia ou socorria dos melhores medicamentos de que dispunha.
Mesmo no momento de dor, Mariana não deixou de ser remungona e quase que esconjurou os presentes quando estes murmuravam que o melhor para ela seria regressar à casa dos pais. “Aquêlê!!! Eu vou pra Ribeira, mesmo que para isso tenha de viajar em padiola ou no lombo de um burro, que seja!
E no dia seguinte, Mariana deixava Cómp de Porto. Não em padiola, nem em lombo de burro, mas sim, em lombo de gente. Três homens, escolhidos pela sua compleição física, carregaram a mulher às costas ao longo de aproximadamente 66 kilómetros, numa maratona que  durou 13 horas. Os três cavalheiros, um deles era precisamente o Manuelzinho, iam descansando uns aos outros fazendo lembrar a procissão de Nhô São João Baptista, em que diferentes fieis vão carregando, à vez, a imagem do Santo.
Por volta das 10 da noite, os pobres homens chegavam ao destino que era a casa de nho Manuel Martinho, imão da Mariana, situada em  Ladeirinha de Ribeirinha de Jorge. Esbofados, mas animados por terem finalmente entregue a “carga”, as criaturas exigiram em troca um cálice de grogue para secarem o suor. De seguida deitaram-se debaixo de um pé de fruta-pão, mesmo em frente ao terreiro da casa,  de onde, antecipando o amanhecer do dia seguinte, partiram de novo rumo ao Cómp de Porto.

Próximo capitulo
Mariana revela alguns detalhes do namorico que manteve com Antonim. Na relacao nao chegou a ter “malcrioçon”.

19 setembro 2013

A ILHA do Sol Nascente... e poente


A Ponta do Sol não se contenta com o privilégio de ser onde nasce o Sol, ainda tem a mania de querer que o Sol se ponha ali também

18 setembro 2013

A Caminho de Fontaínhas


Pelas estradas, pelos caminhos, pelas muralhas da minha ilhas... descubro a cada instante os encantos de uma ILHA que guarda mil poemas à cada virar de uma curva.