15 janeiro 2010

Vadu e Ribeira Grande: da paixão à tragédia


O caso de Vadu é mais uma daquelas histórias de paixão que acaba em tragédia. Um jovem natural de Santiago, desenvolve uma grande paixão por Ribeira Grande e passa a visitar constantemente a ilha. Cria laços de amizade com as gentes da ilha, sobretudo com jovens das vilas da Ribeira Grande e Ponta do Sol. No campo cultural faz actuações esporádicas no espaço “Lêdera de Séntísssima” um cantinho emblemático das noites de Puvoçon, troca experiências com jovens músicos da ilha e fundem estilos em sessões informais de simples convivência.

Nas suas deslocações à ilha, busca nas montanhas, no mar (isso mesmo, no mar) e no groguin, como dizia, a inspiração para algumas das suas melodias. Compõe uma música a exaltar Ribeira Grande e apresenta-a no seu último CD Dixi Rubera. À melodia, deu o nome de “fazen Sabi” e nela diz que “esse mar, esse rotxa, esse bentu, esse groguin ta faze’n sabi”. Ainda na mesma música faz referência ao Terreiro, o centro da Vila da ribeira Grande e ponto de encontro da juventude de Puvoçon,  o que evidencia a sua perfeita integração no meio local (rapazis na Terêru ta konta storia…)
Vadu estava há quase um mês em Santo Antão. Passara a quadra festiva na Ribeira Grande e ia ser o cabeça de cartaz do festival de música integrado nas actividades alusivas à festa do município da Ribeira Grande, que é comemorada à 17 de Janeiro. Nos últimos tempos, por já levar algum tempo na ilha, essa sua preferência por Ribeira Grande era motivo de comentários vários por parte dos ribeiragrandenses que se vangloriavam pelo facto de um artista como Vadu ter migrado da Praia para a pacata Ribeira Grande, que é como quem diz, do centro para a periferia.

A paixão pela ilha das montanhas era tanta que Vadu já havia solicitado á Câmara Municipal da Ribeira Grande um terreno para construir uma “casinha” em Ponta do Sol. Foi, alias, o próprio presidente da Câmara, Orlando Delgado, quem revelou isso, numa entrevista à RCV, no dia seguinte ao fatídico acidente.
Vadu já era considerado um filho da Ribeira Grande. Não sei como terá nascido essa sua paixão por Santo Antão. Contudo, não deixa de ser curioso o facto de Zezé de Nha Reinalda, tio de Vadu, também nutrir um sentimento especial pela ilha, facto que ficou bem provado nalgumas das suas canções, como por exemplo o tema “Santanton”, do CD “Lugar pa Nos tudu”, uma composição com uma letra maravilhosa, um tributo à ilha que Zezé fez questão de repetir no mais recente disco “Dukumentu”.

As rochas e o mar que inspiraram Vadu, que fazel sabi, acabariam por ser os mesmos que o ceifariam a vida. Quis o destino que o rapazinho do Bairro Craveiro Lopes fosse perder a vida na terra que aos poucos ia adoptando, uma terra que, para lá chegar, ele teve ki salta tudu mar e rotcha tamanhu, para depois concluir: sabura kin pasa, ka ta da pa konta, Kantu um da rinkada pan bai, um ka rapendi.

 Foto: aqui

1 comentário:

Anónimo disse...

É realmente um história comovente e que terminou da pior forma, infelizmente, deixo os meus pêsames a todos os Caboverdeanos, embora seja portuguesa sinto que tenho uma "costela" vossa.
Coragem.
F.C.