"A música 'Mnine de Rua' foi escrita a pensar na Lura"
Na ressaca dos prémios da Gala Cabo Verde Music Awards, Sinta10 conversou com Arlindo Évora, líder do grupo Cordas do Sol. Passado o momento de euforia, se é que a condição humilde do conjunto de Santo Antão abre portas à exaltações, quisemos saber como é que Cordas do Sol encara o peso que acarreta o facto de o grupo ter sido um dos grandes vencedores da gala.
Em conversa descontraída com Sinta10, Arlindo Évora fala da alegria de ter subido ao palco por 3 vezes durante o evento e revela: “Mnine de rua” - a música do ano, que agora está na boca do povo -, “foi escrita a pensar na Lura”.
Por: Benvindo Neves (Sinta10)
Sinta10: Como foi a reacção do grupo Cordas do Sol quando viu que, afinal, era, a par de Beto Dias, o grande vencedor da Gala CVMA?
Arlindo Évora: Reagimos com calma porque, como sabes, estávamos numa competição saudável e nas categorias onde éramos nomeados havia concorrentes com grandes projectos, casos da artista Mayra Andrade, Lura ou Beto Dias. Então, sentíamos preparados para qualquer cenário, para nós seria normal que qualquer dos nomeados ganhasse. Fomos distinguidos, ficamos orgulhosos, mas também comprometidos porque, ao fim e ao cabo, sabemos que é uma grande responsabilidade.
Sinta10: Cordas do Sol estava nomeado para 5 categorias, acabou por sair vencedor em três: “Melhor Álbum Acústico”, “Melhor Batuque/Kolá Sanjon” e “Música do Ano”. Qual era a categoria que o conjunto mais cobiçava?
AE: Para dizer a verdade, aquela que mais cobiçávamos era a distinção de “Melhor Álbum Acústico”. Mas, depois havia outra dimensão que era a distinção da melhor música do ano. Estávamos ansiosos, tínhamos muitas expectativas tendo em conta que essa categoria era sujeita à votação popular. O facto de estar a competir com grandes sucessos como “Totalmenti di bo” de Beto Dias, “Storia storia” da Mayra Andrade ou Rebound Chick” de Nelson Freitas, que é um sucesso das discotecas, nos deixava ansiosos. Queríamos saber o que o público ia decidir. Ficamos extremamente satisfeitos, até porque a mensagem da música, que tem a ver com uma problemática universal, acabou por sair reforçada.
Sinta10: Arlindo, quando escreveste a música “Mnine de rua”, em algum momento pensaste que pudesse vir a alcançar tanta projecção, a ponto de ser considerada música do ano?
AE: (Risos…) Olha, deixa-me revelar-te um segredo. Quando comecei a escrever a música, imaginei a Lura a cantá-la. A canção foi feita a pensar num timbre de voz com vibrato, uma voz que tivesse uma certa sensibilidade e sensualidade. Quando a escrevi, o grupo estava parado, não a fiz a pensar no Cordas do Sol. Fi-la a pensar numa grande voz e essa grande voz seria aquela da Lura, que a daria todo o brilho. Entretanto, de repente perdi o contacto com a Lura, e nesse meio tempo surge a Ceuzany que acabou por encaixar exactamente naquilo que eu imaginava: uma voz com uma certa sensualidade feminina. Então, as técnicas vocais usadas, e mais outros aspectos ligados à voz, tudo isso foi trabalhado com o intuito de provocar um certo efeito nas pessoas. Afinal, foi por isso que, quando a escrevi pensei logo na Lura, porque imaginei a música a ter uma certa aceitação. Pronto, nós no Cordas do Sol acabamos por dar um tratamento á composição e hoje estamos felizes.
Sinta10: Então, pode dizer-se que Ceuzany te fez esquecer a Lura…
AE: (Pausa) Quando pensamos em reformular a banda, elaborámos um projecto de reformulação, não foi uma coisa feita ao acaso. Fizemos mudanças profundas e pensamos logo numa voz feminina, mas com qualidades como a da Ceuzany. Ela apareceu e preencheu esse espaço, parece que estávamos a espera dela. Não esqueço nunca da Lura! A Ceuzany apareceu e acabámos por ficar satisfeitos. Apesar da música ser obra do grupo, a Ceuzany acaba por trabalhar cerca de 80% dessa canção.
Sinta10: Já que falaste da Lura e do facto de teres feito uma música a pensar nela… Ela estava nomeada em muitas categorias, mas acabou por sair da Gala com as mãos a abanar. O que achaste disso?
AE: A Lura estava nomeada em 5 categorias, e isso, creio, já foi um grande triunfo para ela. O prémio é um detalhe. Acho que o mérito está aí, em conseguir tantas nomeações, o que não é nada fácil já que é preciso passar por várias triagens. O júri, de certeza, que não decide à toa. Claro que ela não estava a ser avaliada pelo conjunto do seu trabalho, mas sim pelo trabalho submetido ao concurso. Acho que a Lura tem todo o mérito, como tem também a Mayra Andrade. Nós, por exemplo, estávamos nomeados em 5 categorias, podíamos não ganhar em nenhuma, mas o facto de já termos conseguido essas nomeações para nós já era uma grande vitória.
Sinta10: Cordas do Sol foi representado na gala por apenas 2 elementos. Os restantes não terão ficado, de algum modo, tristes por não terem podido subir ao palco da Assembleia Nacional no momento da entrega dos prémios?
AE: Bem, em termos logísticos era complicado levar toda a banda para a Gala. Tínhamos consciência disso, sabíamos que implicaria um esforço financeiro enorme por parte da organização e, por isso, aceitámos de pronto a proposta de levar representantes. Eu fui na qualidade de líder do grupo e optámos por levar a Ceuzany pelo facto de ser ainda jovem, seria uma experiência para ela. Foi triste não ter o grupo todo, mas os outros elementos estavam a acompanhar. Quando vi todos os elementos dos Ferro Gaita em palco, por momentos fiquei a imaginar todos os integrantes do Cordas do Sol também naquele palco. Tive ciúmes (risos) porque sei que a emoção seria outra.
Sinta10: Como é que a ilha de Santo Antão reagiu depois do vosso destaque na Gala?
AE: Olha, como sabes, somos um grupo bastante discreto e deixamos as coisas acontecer naturalmente. De facto, recebemos vários telefonemas, mensagens pela Internet (nas redes sociais, e-mail) as pessoas na rua, enfim, foi uma manifestação extremamente agradável. Mas, não houve nenhum aparato, como eventualmente se podia supor. Entretanto, estamos a preparar um momento para irmos apreciar e compartilhar a honra de ter conseguido trazer para Santo Antão essa conquista.
Sinta10: Depois de um período de alguma inércia, Cordas do Sol regressou em 2010 com “Lume de Lenha”. O CD foi muito bem acolhido e agora, com as distinções do CVMA, aumentam as responsabilidades. Quais são os próximos projectos do conjunto?
AE: Tivemos um ano de 2010 muito feliz! Pelas nossas contas fomos dos grupos de Cabo Verde com maior tempo de palco. Os planos para 2011 são muitos, inclusive já temos convites para um novo CD. Queríamos esperar mais algum tempo, mas, por outras razões a nível internacional, temos que manter uma certa constância. Ao fim de dois anos, pelo menos, a que ter um novo trabalho, quanto mais não seja para consolidar esta nova temporada.
De facto temos muitos projectos, vamos continuar na rota de promoção com espectáculos; temos planos para a Europa, América, África, para os arquipélagos da Macaronésia, enfim. Mas, queremos fortalecer as relações com o nosso povo aqui em Cabo Verde. Vamos prestar muita atenção aos festivais, consolidar nossa presença em todas as ilhas, inclusive com pequenas actuações, em restaurantes, em lugares pequenos para aquelas pessoas que não conseguem pagar muito. Enfim, a nossa filosofia é crescer com o povo; crescer de dentro para fora. Queremos, sim, colher frutos lá fora, mas com base aqui em Cabo Verde.
Sinta10: E já que falaste em mais um CD, o próximo trabalho discográfico, em termos de estilo, como é que será? Faço esta pergunta porque o mais recente trabalho – Lume de Lenha – trouxe muitas inovações.
AE: Bem, por enquanto acho um bocado prematuro estar a revelar os meandros do novo trabalho. Já estamos a trabalhar nisso, vamos lançar uns “bluff” para ver como é que as pessoas reagem, vamos discutir, vamos esperar e no momento certo anunciaremos alguma coisa. Certo é que tudo já está no pensamento, agora precisamos aprofundar mais.
5 comentários:
Muito bem, Benvind. mt bem mesmo
Thanks Flavio
akel abraço
BCN felicito o teu trabalho excelente por conseguires uma entrevista com o Arlindo. O Cordas do Sol ganhou os prémios com todo o merecimento. E isto fica de exemplo para outros grupos musicais (e não só) de Santo Antão, que nada é impossivel, basta acreditar e empenhar nos trabalhos e conseguirão alcançar os objectivos.
Fiquei triste de ver Suzana Lubrano a levar um prémio que era do Nélson Freitas, nesta categoria o júri estava mesmo a dormir, penso eu...
Bom trabalho broda!De facto cordas do sol foi o grupo de maior destaque em 2010 e mereceu inteiramente os prémios. Grande iniciativa de Gilito e os seus pares! A única mágoa que senti foi o facto da Morna não aparecer como uma gategoria individualizada!E sabes que sou dependente da morna!Foi uma gala excelente e é para continuar. Viva a música cabo-verdiana! Um Abraço «g'rrôtchód»!
É verdade, broda! A ausência nítida da morna foi, de resto, notada por muita gente. Pelo peso e simbologia que tem na nossa música merecia sim estar numa categoria autónoma. Espero que assim seja na 2ª edição
Txém dvolvêb kel braça xei de gôrrôtxe
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