foto: fonte aqui
27 novembro 2008
Corvo
Gosto muito deste lugarejo. É uma das muitas zonas encravadas do concelho da Ribeira Grande. Os carros não chegam lá, mas há telefone e energia eléctrica 24 horas por dia. Corvo sofre muito com o êxodo rural e hoje o lugar é maioritariamente habitado por pessoas velhas ou de meia idade. A maioria dos nativos migraram-se principalmente para Ponta do Sol, que é a vila mais próxima.
Mas Corvo é um esconderijo que proporciona ao visitante momentos únicos: na comunidade pratica-se agricultura de regadio (cultivo de inhame, cana de açúcar, banana...) e de sequeiro (milho, feijões...). Há um vale bem estreito e mais ou menos comprido que se penetra pelas montanhas adentro; há água límpida a correr pela ribeira onde ainda se pode encontrar agriões e hortelãs; há patos a nadarem nos pequenos pântanos... e o mar está há poucas centenas de metros.
Tirando a falta de estrada, corvo tem de tudo um pouco, é um encanto! O próprio trajecto, em caminho vicinal, acaba por ser um prazer: as dezenas de curvas em declive, a fresca brisa que vem do mar que fica lá em baixo, a vista panorâmica sobre o oceano, enfim... belezas escondidas da minha ilha!
15 novembro 2008
"BAGDAD" paralisado
Esta notícia fez-me recuar alguns anitos (cerca de seis) e recordar a altura em que percorríamos diariamente a pé o trajecto Ribeira da Torre - Vila da Ribeira Grande, para assitir às aulas no liceu Suzete Delgado. Bem, no meu caso, nem eram grandes distâncias. Da minha Ribeirinha de Jorge até ao centro da vila são menos de 3 kilómetros, percurso esse que fazíamos em 25/30 minutos. Mas tinha colegas de turma que, por morarem mais acima, galgavam a pé cerca de 5 ou mais kilómetros até chegarem ao liceu.
Fotos: asemanaonline
Ainda não havia autocarros e estávamos tão acostumados! A nossa maior inimiga era, sem dúvidas, a fumaça levantada pelos carros e pelas esporádicas ventanias. Éramos obrigados a lavar o nosso uniforme duas ou três vezes por semana, porque senão, a gola que era verde-clara ficava castanha. Mas não era só a roupa. Os nossos sapatos também sofriam. As solas gastavam-se facilmente e, (in)felizmente, ainda as lojas chinesas eram insignificantes.
À entrada da vila, lá na K'Beça de Vaca como diz minha avó, montávamos uma autêntica estação de lavagem e recauchutagem das nossas "rodas", para que elas não parecessem castanhas em vez de pretas.
Bem, hoje há viaturas de aluguer a cobrar 20, 30, 50 escudos, conforme a distância, para quem quiser e tiver possibilidades de ir de carro. Há também o autocarro escolar para aqueles que moram um pouco mais distante - o "Bagdad" - conforme os rapazes trocistas do vale o apelidaram por causa da sua cor que mais parece uma máquina das Forças Armadas. Neste momento está parado por causa das péssimas condições da "estrada" de penetração do vale. A "estrada" que corre para o mar sempre que uma chuvinha mais intensa origina um ribeiro.
Bem, hoje há viaturas de aluguer a cobrar 20, 30, 50 escudos, conforme a distância, para quem quiser e tiver possibilidades de ir de carro. Há também o autocarro escolar para aqueles que moram um pouco mais distante - o "Bagdad" - conforme os rapazes trocistas do vale o apelidaram por causa da sua cor que mais parece uma máquina das Forças Armadas. Neste momento está parado por causa das péssimas condições da "estrada" de penetração do vale. A "estrada" que corre para o mar sempre que uma chuvinha mais intensa origina um ribeiro.
13 novembro 2008
08 novembro 2008
"Grétas" da minha ilha
03 novembro 2008
A magia do Bana no Auditório Nacional
Afinal, o talentoso é também um busód
Quem há alguns meses lia as notícias sobre o estado de saúde do Bana em Lisboa, certamente não pensou que, hoje, passado pouco tempo, o artista pudesse estar de volta aos palcos com tanto fulgor, talento e, acima de tudo, boa disposição.
Quem há alguns meses lia as notícias sobre o estado de saúde do Bana em Lisboa, certamente não pensou que, hoje, passado pouco tempo, o artista pudesse estar de volta aos palcos com tanto fulgor, talento e, acima de tudo, boa disposição.
Pois é, o Auditório Nacional Jorge Barbosa, na Praia, recebeu ontem um memorável concerto. Bana, ao seu grande estilo, empolgou uma assistência que ao longo de mais de uma hora aplaudiu sem parar este colosso da nossa música.
Era a primeira vez que assistia a um concerto desse gigante da música nacional, ao vivo. Um grande privilégio!
Cantar é, sem dúvida, aquilo que melhor sabe o GIGANTE fazer. Isso não constitui novidade para ninguém. Só não sabia que, para além de encantar a cantar, Bana encanta com a sua forma de estar no palco. Ontem ele revelou ser uma pessoa muito comunicativa e bastante busód. Com um sentido de humor apurado, Bana fazia o público soltar umas boas gargalhadas cada vez que a ele se dirigisse.
O ínício foi emocionante: entrou no palco a interpretar a eterna "Lena" e quando terminou, pediu desculpas por "ca ter cumprimentód antes". De seguida lembrou os momentos difíceis por que passara meses antes e agradeceu "aos médicos, ao povo cabo-verdiano e ao governo de Cabo Verde." Por essa altura, comovido, quase deixou verter algumas lágrimas. O público aplaudiu com emoção e Bana retribuiu com mais uma morna imortal.
Numa noite de grandes mornas e coladeiras, Bana recebeu o carinho de um público maravilhoso que cantava junto com o mestre, apaludia sempre e, de vez em quando, uma ou outra voz se ecoava no meio da noite a pronunciar frases de admiração e estima. Por exemplo, a uma dada altura, na ligação de uma música a outra Bana, ao expressar algumas palavras, fez umas reticências "mim é.... ". Logo um grito soltou "... bo é um Património". Bana completou "é verdade, um património."
Mas foram muitos os momentos sublimes (aliás assim foi todo o concerto). Eis mais alguns momentos que resgitámos:
- Na morna Lora Bana chamou uma jovem e fizeram dueto. A menina foi corajosa, mas passou no teste;
- Na coladeira mexê mexê Bana esboçou um pé de dança e o auditório entrou em delírio. Que ovação!;
- Antes de interpretar Maria Bárbara Bana dedicou essa morna a uma criança desconhecida que através de um terceiro lhe tinha enviado um recado: "iria ao concerto só para o ouvir cantar Maria Bárbara";
- Na parte final, Bana diz: "ja'm ti te bem dá más só 2 muzca: um é pa cabá, ot é pa consolá"(...) e'm tem 5 minuto pa'm pensá que música ti te bem ftchá bsot ess not". Esta foi mais uma tirada de humor que deixou a plateia dodu;
- E para acabar mesmo, Bana despediu desta forma: "bsot é maravilhoso, bsot é estrondoso... mas... mim também e'm ca ta fcá pa trás"
Enfim... momentos desses são raros neste país de música. Está de parabéns quem teve a ideia de voltar a trazer o Grande para o Auditório, desta vez não para interpretar apenas 4 músicas, felizmente. O concerto de ontem mostrou que o público, seja ele da Praia, de Soncnet, Sintanton, Fogo, Brava... está sedente de mais eventos culturais.
Parece que o Auditório Nacional - até bem pouco tempo tido como um autêntico Elefante Branco, começa a ganhar alguns pigmentos diferentes... digamos mais naturais. Que venham agora outros artistas: Cesária Évora, Tito Paris e a sua Orquestra (o tal sonho), Tcheca, Princezito, Teatro, dança... pelo menos tud fim-de-seman um evento, hehehehe (sonhar é bom)
Hah, em jeito de basofaria: a última música da noite, a tal consolança, foi Fitche Fatche na Tracolança. Música que relata um "fitche fatche" na Ponta do Sol, vila sintadezense.
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